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4 de outubro de 2001
No espírito da vida na floresta
Cristina Bodas, no Alto Juruá
Estou num acampamento com um dos três grupos que monitoram a demarcação das terras Deni. Aqui não é uma aldeia indígena. É um conjunto de barracas - formado por índios, técnicos, membros do Greenpeace - que muda de lugar conforme a demarcação vai avançando.
O que me impressiona aqui é a força das pessoas da equipe. O trabalho é pesado e as condições são precárias. Um grupo de índios Deni e técnicos deixa o acampamento todos os dias às 7h e retorna por volta das 17h. Eles caminham o dia todo na floresta abrindo picadas, conferindo a localização e fixando placas que indicam que esta terra pertence aos Deni.
No acampamento, uma mesa e tendas foram construídas com a madeira disponível em cada lugar que se chega. Dormimos em redes cobertas com "mosquiteiros", tomamos banho no rio, usamos calças, camisas de manga comprida e botas para proteger o corpo todo, dia e noite, do ataque interminável dos mais variados tipos de insetos. Para beber, água do rio. Para comer, o que tiver, normalmente arroz, feijão e farinha. O cardápio é o mesmo no café da manhã.
Hoje é um dia especial. O helicóptero passou por aqui e deixou um pouco de peixe fresco. O jantar será um ensopado de peixe. Engraçado como as nossas referências mudam: estou achando o jantar maravilhoso e até com "saudades" dos calmos pernilongos de São Paulo. O difícil vai ser me acostumar a dormir às 20h e levantar às 5h. Mas esse é o horário dos Deni (quando não resolvem levantar às 2h para bater papo), o horário da floresta, onde o melhor a fazer quando escurece é se recolher na rede coberta pelo mosquiteiro.
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