|
ÍNDIOS E TÉCNICOS CAMINHAM 10 HORAS POR DIA PARA FAZER A DEMARCAÇÃO
Todos os dias, por volta das 7h, duas equipes de índios Deni, técnicos e voluntários deixam os acampamentos provisórios e começam uma caminhada pela floresta que só termina perto de 17h. Munidos de facões e equipamentos como GPS e teodolito, eles vão abrindo picadas de cerca de três metros de largura e fixando placas nas árvores para indicar que aquele território pertence aos Deni. "Fico cansado e com saudades de casa, mas estou aqui pra cuidar do que é nosso", afirma o chefe Biruvi.
Com o apoio de entidades como Cimi, Opan e Greenpeace, os índios receberam treinamento técnico para fazer a demarcação. "Ficamos 15 dias aprendendo a fazer tudo certinho para nosso trabalho não ser perdido", conta o também chefe Deni conhecido como doutor Barros.
"Eles fazem tudo praticamente sozinhos. Nós (especialistas) só acompanhamos para dar algumas coordenadas", diz o engenheiro florestal Luiz Artur de Oliveira e Silva, contratado pelo Greenpeace para orientar parte da demarcação.
Trabalhando diariamente com os índios desde o dia 10 de setembro, Artur afirma que aprendeu muito com eles. "Os Deni têm uma forma muito diferente da nossa de se relacionar com o trabalho. São muito responsáveis, mas fazem tudo no tempo deles. O trabalho é importante, mas é apenas uma parte da vida dos Deni. Não se escravizam no trabalho como nós fazemos muitas vezes", analisa.
Os Deni decidiram suspender o processo de demarcação de terras na última sexta-feira, dia 5, após um acordo feito com a Funai. Os índios aguardam agora um documento oficial da entidade garantindo a continuidade da demarcação de suas terras. Os Deni garantem que se nada for feito, eles voltam a abrir picadas na floresta para terminar a autodemarcação.
Cristina Bodas, do Alto Juruá
|