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João Gordo e Vivi Torrico têm projeto de distribuição de marmitas veganas para pessoas em situação de vulnerabilidade  Foto: Foto: Alexandre de Pádua | Arte: Eric Fiori

João Gordo distribui marmitas veganas na rua: ‘O jeito que a gente age é punk’

Projeto Solidariedade Vegan, de João Gordo e Vivi Torrico, já entregou 280 mil refeições a pessoas em situação de vulnerabilidade

Imagem: Foto: Alexandre de Pádua | Arte: Eric Fiori
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11 dez 2023 - 04h00
(atualizado às 12h33)

Há cerca de quatro anos, o músico e apresentador João Gordo, junto com sua esposa Vivi Torrico, distribui diariamente marmitas veganas e outros itens de necessidade básica a pessoas em situação de vulnerabilidade.

O projeto se chama Solidariedade Vegan e nasceu quando o restaurante vegetariano que tinham em São Paulo (SP), o Central Panelaço, foi fechado com o início da pandemia de covid-19. “Havia sobrado um monte de comida. Eu tinha saído do hospital, mas estava adoentado ainda, me recuperando da pneumonia, e ela [Vivi] saiu pra entregar essa comida para o pessoal que morava embaixo de uma ponte no Glicério [região central de São Paulo]”, conta João Gordo em entrevista exclusiva a Planeta.

Lá ela encontrou um amigo carroceiro que estava com fome. “O pessoal não tinha comido nada, não tinha bebido água, não tinha onde descolar água. Porque os caras descolavam água em bar, né? Mas estava tudo fechado”, fala João.

Naquele dia, Vivi voltou emocionada para casa e, junto com a família, montou o projeto para ajudar as pessoas com comida vegana: “Foi uma decisão muito corajosa, porque o João tinha passado quatro meses com uma doença pulmonar e havia o perigo muito grande de eu trazer covid para casa”. Assista à entrevista no vídeo abaixo: 

Veganismo

João Gordo é vegetariano desde 2004 e diz que a intenção do projeto sempre foi deixar os ingredientes de origem animal de fora das marmitas. Com isso, conseguem poupar a vida de milhares de aves, bois, porcos e peixes: “O povo do centro da cidade está sofrendo com todo tipo de necessidade, tortura mesmo. Pra gente não fazia sentido levar um prato de comida que também tivesse tortura”.

O casal conta que, para eles, o ideal é que todo mundo tivesse uma alimentação vegana, mas, ao mesmo tempo, não desejam impor nada a ninguém. A grande vontade é que as pessoas tivessem autonomia para escolher. Inclusive, na rua, eles encontram com veganos que não podem comer no Bom Prato “porque a maioria das coisas são feitas com bicho”.

Foto: Alexandre de Pádua | Arte: Eric Fiori

Impacto positivo

"Comida você come todo dia. Não apenas de segunda a sexta. O Bom Prato, por exemplo, fecha nos feriados. Desde então, há quatro anos, nós não paramos nunca, nenhum dia sequer, de fazer marmitas veganas", explica Vivi.

Hoje, o Solidariedade Vegan não é mais só sobre alimentação. Eles ajudam as pessoas com diversos outros itens. “A gente já distribuiu mais de 280 mil refeições. Começamos com 78 marmitas do nosso bolso e, desde então, estamos multiplicando, multiplicando, multiplicando”, diz João, que é complementado por Vivi: “Só no ano passado a gente entregou 12 mil pares de chinelo”. 

Foto: Divulgação | Arte: Eric Fiori

A atuação toma lugar principalmente na Matilha Cultural, um espaço de cultura independente no centro de São Paulo (SP), mas também na região da Cracolândia, nas aldeias Tekoa Pyau, Tekoa Pindo Mirim, Tekoa Itakupe e Tekoa Itawera, localizadas no Pico do Jaguará, e nas ocupações Alcântara Machado, Luiz Gama, José Bonifácio e São Vicente.

Nas ocupações, eles já colocaram quatro bebedouros industriais, mas querem que o governo faça sua parte. “Cada um custa R$ 1.600. A prefeitura não tem esse dinheiro? Aí fui ver, até os anos 1980, São Paulo tinha vários bebedouros em locais públicos, mas aos poucos foram deixando de fazer a manutenção e tirando”, fala Vivi.

Redução de danos na Cracolândia

Eles também fazem parte de eventos que ajudam as pessoas da Cracolândia, como o Pagode na Lata, o Cinema no Fluxo e o Futebol no Fluxo, para onde levam pipoca, suco ou água.

A gente faz vários projetos para redução de danos. Toda semana, estamos nas exibições de filmes ou tocando samba junto com o Pagode na Lata. São algumas horas em que eles param de consumir [crack], estão dançando e fora de perigo, de apanhar e de serem torturados

- Vivi Torrico

O projeto está presente onde há ausência da assistência dos governantes. “Em vez de ajudar, eles confiscam barracas e molham cobertores. Quando a gente leva água e comida pra lá, somos multados, ameaçados e agredidos”, fala João.

“A prefeitura joga bomba no fluxo. Cada uma custa R$ 800 ao cofre público e são jogadas quatro, cinco, dez por dia, todos os dias. Esse dinheiro deveria ser aplicado em políticas públicas. Em vez de jogar bomba, eles poderiam colocar bebedouros”, diz Vivi.

Para João Gordo, “um dos planos do governo é fazer um Auschwitz da Cracolândia. Colocar todo mundo num lugar para que sejam dizimados”.

Sem patrocínio

“O bagulho é punk, o jeito que a gente age é punk”, diz João. Todo o trabalho é feito sem patrocínio e sem edital, somente com doações e com movimentações de rifas e shows solidários de bandas do underground. 

A maioria dos voluntários e doadores tem afinidade com o projeto ou pelo veganismo, ou pela música. “Eu comecei a ser punk em 1979, com 14 anos, e nunca mais saí dessa. Entrei por causa do meu radicalismo, entrei na banda, vivi isso intensamente até hoje e isso me trouxe até aqui, nesse momento solidário”, diz João. 

"E não tem mais como a gente sair dessa. Uma vez que você começa a fazer um negócio desse, você conhece as pessoas, começa a ter contato com eles, você cria vínculos. Você vê que são pessoas legais com um problemão", finaliza.

Para ajudar o projeto, você pode fazer uma doação via Pix para a chave 101.471.468-01 (João Franscico Benadan) ou via Paypal para vivi.torrico@uol.com.br

Fonte: Redação Planeta
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