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As vítimas
Terça, 12 de novembro de 2002 
O Césio matou quatro pessoas e deixou marcas permanentes em várias outras
 
Foto: JB Online
Devair Alves Ferreira foi um dos mais atingidos pela tragédia
 
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Marcela Mourão/Redação Terra

Quatro pessoas morreram e mais de 800 foram contaminadas. Ao longo dos anos, foram registradas outras mortes de vítimas do acidente. No entanto, de acordo com a Superintendência Leide das Neves Ferreira (Suleide), não é possível afirmar se as mortes tiveram relação com a contaminação. Muitas das pessoas que sobreviveram convivem com as marcas deixadas pelo Césio 137 em seus corpos. Todas que foram reconhecidas como vítimas e incluídas em grupos são acompanhadas pela Superintendência.

Oito casos de malformação em crianças de até 10 anos de idade, nascidas em Goiânia, filhas e netas de vítimas ou vizinhas do local do acidente, estão sendo investigados pelo Ministério Público. A Suleide informou que o acompanhamento realizado durante 15 anos apresentou, no item malformação, os seguintes resultados: 1 criança nasceu com hemangioma cerebral, 3 com hérnia inguinal e 2 com hérnia umbilical.

Entre algumas das patologias constatadas decorrentes da radiação estão hipertensão, gastrite (com e sem presença de H. Pylori) dislipidemia, síndrome do pânico, radiodermites, doenças periodontais, malformação congênitas em crianças, atraso no crescimento, transtornos psiquiátricos (traços psicopáticos, depressão).

O primeiro caso de câncer em uma vítima da radiação foi constatado em julho de 1991. A mulher, que não foi identificada, tinha na época 33 anos. Durante exames de rotina feitos nos pacientes, foi verificado câncer em um dos seios. A vítima trabalhava, em 1987, como faxineira da Coordenação de Vigilância Sanitária para onde um pedaço da cápsula foi levado. A mulher ficou exposta à radiação durante três horas e estava relacionada como uma das vítimas do grupo III.

Leide das Neves Ferreira, 6 anos, e Maria Gabriela Ferreira, 29 anos foram as primeiras vítimas da tragédia. O enterro de ambas foi realizado no dia 26 de outubro de 1987, no Cemitério do Parque, sob protesto de mais de 2 mil pessoas. A revolta era fruto da falta de informação. Armados com tijolos, madeira e, até mesmo, pedaços de concreto, os manifestantes não queriam que a área virasse depósito de rejeitos radioativos. A caminhonete blindada que transportava os caixões chegou a ser atacada.

Triste e dopada por calmantes, a mãe de Leide, Lourdes, compareceu ao enterro sem o marido, Ivo, que estava internado no Rio. Graças à primeira-dama do Estado na época, Sônia Santillo, Lourdes conseguiu se aproximar do caixão da filha sem ser agredida. Em entrevista ao jornal O Popular de Goiás, quando dos dez anos do acidente, o padre Luiz Lôbo atribuiu o protesto ao pânico que se instalou na cidade. "No entanto, nem mesmo o suposto risco de contaminação justificaria uma ação tão desumana", disse na reportagem.

Devair Alves Ferreira: tio de Leide e marido de Maria Gabriela, sobreviveu. No entanto, ele começou a apresentar confunsão mental e perdeu a vontade de trabalhar. "Eu perdi uma esposa, uma sobrinha, dois amigos, a saúde, a vontade", resumiu. Em 1994, ele faleceu em função de insuficiência hepática (cirrose). A Superintendência Leide das Neves informou que, durante o período de 15 anos, ocorreram algumas mortes de vítimas da radiação, mas não se pode afirmar se foram provocadas pelo acidente. As principais causas foram: insuficiência hepática, tumores, acidentes, perfuração duodenal (sepsis), miocardiopatia.

Zilda Maria de Jesus: faleceu no dia 1° de novembro de 2002, devido a tumor no sistema nervoso central, após ser submetida a inúmeras cirurgias e tratamentos quimioterápicos. Ela estava incluída no Grupo III de acompanhamento e sendo transferida para o Grupo de Trabalhadores no Acidente. O Processo de Concessão de Pensão Estadual, no valor de R$ 400 estava pronto.

Ivo Alves Ferreira: pai de Leide, ficou impossibilitado de trabalhar por causa das lesões e dos problemas de saúde que se agravaram. Ele ainda será reoperado para remover cinco nódulos de uma cicatriz na perna. Os nódulos surgiram no local dos pontos da cirurgia para enxerto de pele na área da lesão.

Luiza Odet Mota dos Santos: 38 anos, mulher de Kardec Sebastião dos Santos, tem lesões no pescoço. Ela, bem como o marido e quatro dos cinco filhos, pertence ao grupo I. O filho mais novo, que nasceu em 1992, ficou livre da radiação. Ela trabalha em casa, fazendo salgados. Ao contrário de Ivo, Luiza não quis ser reoperada para não arriscar.

Roberto Santos Alves: teve o antebraço direito amputado por causa das lesões.

Odesson Alves Ferreira: teve lesões na palma da mão esquerda e no indicador direito.

Ernesto Fabiano: carregou no bolso fragmentos do Césio 137, ficou com uma grave lesão.

Policiais militares que trabalharam na vigília dos rejeitos do acidente com o césio 137 também sofrem com o acidente mas, não foram reconhecidos como vítimas. Foi diagnosticado neles síndrome pós-traumática por estresse. Um deles, Marques de Souza Ribeiro, teve câncer de cérebro. No entanto, não há como saber se a doença está relacionada com acidente. "Não temos como provar uma relação entre a doença e a contaminação, pois o tumor atingiu o sistema nervoso central, cujas células são muito resistentes à radiação, que atinge inicialmente o sistema hematopoético", explicou a oncologista Ana Maria Curado, em entrevista, em 1997, na ocasião dos dez anos do acidente, ao jornal O Popular.
 



 
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