Jovens brasileiros trocam estudos por festa na Bolívia

Ítalo Milhomem
Direto de Santa Cruz de la Sierra

  A vida em um país diferente e o status de aluno de medicina atraem muitos jovens para a Bolívia. A falta de maturidade, porém, faz com que o foco acabe longe do estudo. "Muitos têm menos de 25 anos e não entendem como é estudar fora de casa. Eles descobrem que festejar é bem melhor do que perder noites de sono com os livros e ter que acordar cedo no dia seguinte para ir à aula. Alguns são muito 'baladeiros'", reclama Mariana Biasi, 27 anos, que divide um apartamento em Santa Cruz de la Sierra com duas colegas de curso.

Sanches: "Muitos estão aqui porque não conseguiram boas notas no Brasil"
Crédito: Ítalo Milhomem, Especial para o Terra

  Para o coordenador do curso de medicina da Udabol, Marco Antonio Quiroga Sanches, muitos brasileiros pensam que o curso é moleza, mas se surpreendem quando chegam à Bolívia e acabam desistindo. "Muitos estão aqui porque não conseguiram boas notas para estudar no Brasil. Aqui tem que estudar bastante. Alguns se dão conta que não nasceram para serem médicos e desistem".

  Com o foco desviado do objetivo, as confusões afloram. "Existem brigas por conta de meninas. Os estudantes são muito jovens ainda e têm estes problemas por conta de 'namoricos'. Mas damos todo acompanhamento psicológico quando solicitados. Mas muitos não servem para o curso de medicina e só gastam o dinheiro dos pais", comenta Ruben Dário Mendes, representante da Ucebol, mostrando um recorte de jornal com a notícia de que alunos brasileiros brigaram em uma festa na cidade.

  Outro fato ocorreu dias antes do Terra chegar a Santa Cruz. Um grupo de brasileiros foi preso depois de cometer uma série de assaltos. No site do consulado do Brasil há um alerta para que estudantes de medicina não se iludam com propostas de transferência para universidades brasileiras. Pelo menos três alunos já foram alvo de colegas de curso, que aplicaram golpes, prometendo a transferência em troca de dinheiro - que recebem, para depois desaparecer.

  Para Mariana, falta comprometimento, o que "atrapalha na qualidade da formação do médico". Mas a santista, aluna do 4º semestre da Universidade Franz Tamayo (Unifranz), sabe que não é fácil mesmo. Afinal, é preciso muito controle para não ser perder na vida universitária boliviana.