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Usina solar funciona até de noite no sul da Espanha

Usina solar funciona até de noite no sul da Espanha

20 mar 2012 - 14h46
(atualizado às 16h36)
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Na usina Gemasolar, ninguém se preocupa quando o céu está nublado: graças a uma tecnologia única no mundo, a energia acumulada quando o Sol brilha permite produzir eletricidade mesmo à noite ou em dias chuvosos. A central, que entrou em operação em maio passado, não passa despercebida na planície andaluza, no sul da Espanha.

Já na autoestrada, entre Sevilha e Córdoba, percebe-se sua torre iluminada, na qual estão colocados 2.650 painéis solares de 120 metros quadrados cada, dispostos em um imenso círculo de 195 hectares. "É a primeira usina solar do mundo que trabalha 24 horas por dia, sendo assim funciona tanto de dia quanto de noite", explica Santiago Arias, diretor técnico da Torresol Energy, que administra a instalação.

Seu mecanismo é "muito fácil de ser explicado", garante: os painéis, ao refletir a luz do sol sobre a torre, transmitem a ela "uma concentração de energia equivalente a 1 mil vezes a que recebemos em terra".

A energia é armazenada em um enorme recipiente de sais dissolvidos, a uma temperatura superior a 500 graus. Os sais vão servir, em seguida, para produzir vapor e este aciona uma turbina, gerando assim a eletricidade, como numa usina termelétrica solar clássica. É esta capacidade de estocar energia que torna a Gemasolar tão diferente, permitindo que "à noite continuemos a produzir eletricidade com a energia acumulada durante o dia", precisa Santiago Arias. Assim, "utilizo esta energia da forma que interessa a mim, não a ditada pelo Sol".

O balanço é muito positivo: a usina "produz 60% a mais de energia, em relação a uma outra que não possui este sistema de armazenamento", podendo funcionar 6,4 mil horas por ano, contra as 1 mil e 2 mil horas produzidas por uma central comum.

Máquina de dinheiro

"A quantidade de energia que produzimos por ano é equivalente ao consumo médio de 30 mil lares na Espanha, portanto, de cerca de 90 mil pessoas", explica Santiago Arias, proporcionando uma economia anual de 30 mil toneladas de CO2.

Encorajadas por um generoso sistema de ajuda pública, a geração de energia renovável vem sendo estimulada na Espanha, número dois no mundo em termos de aproveitamento da luz solar e primeiro na geração de energia eólica da Europa, à frente da Alemanha.

Em 2011, o país cobriu um terço de sua demanda de eletricidade com as energias renováveis, principalmente a eólica (16%), enquanto que a solar, embora não tão importante (4%), dobrou em um ano, segundo a administradora da rede de transmissão elétrica REE.

Para o projeto Gemasolar, foi preciso, também, a contribuição de investidores estrangeiros: a Torresol Energy é formada pelo grupo espanhol de engenharia Sener (60% do conjunto) e a empresa de energias renováveis Masdar, financiada pelo governo de Abu Dhabi.

Mas "uma usina deste tipo custa caro, não pela matéria-prima utilizada, que é gratuita, mas pelos enormes investimentos exigidos", reconhece Santiago Arias. A conta ultrapassa os 200 milhões de euros. Mas, "no dia em que o empreendimento começar a trazer lucros aos bancos (em 18 anos, calcula), a usina se transformará em máquina de fabricar notas de 1.000 euros", brinca, lembrando que o preço do barril de petróleo, que era de US$ 28 em 2003, beira, agora, os US$ 130.

Em termos imediatos, a crise econômica projeta, no entanto, uma sombra nos projetos deste tipo: a Espanha, à beira da recessão e comprometida com um programa de austeridade, acaba de suspender os subsídios concedidos a novas centrais de produção de energia renovável. "Temos três projetos parados" devido a esta suspensão, comenta Santiago Arias, admitindo, também em um contexto de desaceleração mundial, não ter conseguido ainda vender para outros países a tecnologia Gemasolar, apesar do grande interesse despertado fora da Espanha.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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