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Quem é Demóstenes Torres, advogado que prometeu no STF 'levar cigarro' para Bolsonaro

Ex-senador cassado, Torres, que defende o almirante Almir Garnier, passou um terço do tempo de sua sustentação oral elogiando ministros da Primeira Turma.

2 set 2025 - 22h46
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Demóstenes passou um terço do tempo da sustentação oral elogiando ministros da Primeira Turma do STF
Demóstenes passou um terço do tempo da sustentação oral elogiando ministros da Primeira Turma do STF
Foto: Luiz Silveira/STF / BBC News Brasil

O advogado e ex-senador Demóstenes Torres, que defende o almirante Almir Garnier, protaganizou um discurso no Supremo Tribunal Federal (STF) que chegou a arrancar risadas das pessoas que acompanhavam o primeiro dia de julgamento do núcleo 1 da suposta trama golpista, nesta terça-feira (02/09).

Torres afirmou que gosta tanto do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu na ação penal, que poderia levar para ele "cigarro" em "qualquer lugar".

"Se o Bolsonaro precisar de eu levar cigarro pra ele em qualquer lugar, conte comigo. Ele é uma pessoa que eu gosto", afirmou o advogado, durante a sustentação oral defendendo Garnier.

A frase veio após Demóstenes Torres contar uma história que teria ocorrido após sua passagem pela política — ele teve o mandato de senador cassado por acusações de corrupção em 2012.

Em 2016, quatro anos após ser cassado, o STF acatou a tese de sua defesa e anulou as provas da investigação que o acusou.

Segundo Torres, ele estava no aeroporto de Brasília quando avistou Bolsonaro passando por ele, sem parar.

O advogado disse que se sentiu ignorado por Bolsonaro.

"Aí ele parou naquele lugar que passa o raio-X, olhou, me viu, voltou correndo, me deu abraço e falou: 'Senador, para mim não aconteceu nada'", relatou Demóstenes Torres à Primeira Turma do STF, emendando então na frase sobre o cigarro.

"É possível gostar do ministro Alexandre de Moraes e ao mesmo tempo gostar do ex-presidente Bolsonaro? Sim, sou eu", disse, despertando gargalhadas.

Depois, o advogado brincou que seria a única pessoa no Brasil a gostar tanto de Bolsonaro quanto de Moraes.

Com 1h para defender Garnier, Torres passou 20 minutos elogiando e cumprimentando os ministros da Primeira Turma — incluindo Moraes.

"Quer enfrentar Moraes? Use instrumentos republicanos. Está insatisfeito com suas decisões no STF? Recorra. É o que os advogados têm feito. Supõe saber mais de direito constitucional do que ele? Debata nos autos e audiências, mostre conteúdo intelectual e documentos. Publique artigos e livros. Tudo sem nada de discurso de ódio", afirmou o advogado, citando trecho de um artigo de sua própria autoria publicado em 2023.

Depois, Torres pediu a "rescisão" da delação do réu Mauro Cid — uma das evidências usadas pela acusação.

Entretanto, ele não explicou a diferença exata entre anulação e rescisão.

"Isso implica no desmonte total da ação penal? Não. Haverá apenas o trabalho de se dizer qual prova foi produzida efetivamente, independente da colaboração viciada", defendeu.

A confiabilidade da delação de Cid é um dos principais pontos atacados pelas defesas dos réus.

Torres pediu também que o processo tenha uma "individualização", ou seja, deixe claro o que cada réu teria feito.

Sem apresentar provas ou qualquer argumento, o advogado disse que o resultado do julgamento, independente de qual seja, "não vai permanecer".

"Tudo vai passar por uma revisão", afirmou.

O réu defendido por Torres, Almir Garnier, teria sido o único comandante das Forças a concordar com o plano golpista, segundo a acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Demóstenes segurando papéis e falando ao microfone em sala de audiência
Demóstenes segurando papéis e falando ao microfone em sala de audiência
Foto: Reprodução/TV Justiça / BBC News Brasil

Os altos e baixos de Demóstenes Torres

Figura célebre na política nacional, Torres fez carreira como promotor no Ministério Público de Goiás (MP-GO) e como secretário de Segurança Pública de Goiás, antes de entrar na disputa por cargos eletivos.

Em 2002, foi eleito senador e reeleito oito anos depois, em 2010. Destacou-se como opositor de Lula em meio ao escândalo do Mensalão.

Em 2012, porém, seu nome veio à tona em investigações relacionadas ao empresário Carlinhos Cachoeira, suspeito à época de ter ligações com o jogo do bicho.

Demóstenes foi acusado de agir no Congresso, no Judiciário e no Executivo em favor do empresário.

Em troca, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador teria recebido R$ 3,1 milhões do grupo do empresário, além de presentes.

Em julho de 2012, ele foi cassado pelo Senado, tornando-se o segundo senador na história a ter o mandato cassado pela Casa.

À época, o senador disse que não beneficiou Cachoeira e que não recebeu dinheiro dele. O então parlamentar afirmou que a Polícia Federal teria feito uma "divulgação seletiva" das gravações de suas conversas com Cachoeira, com o objetivo de prejudicá-lo.

A defesa de Demóstenes passou, então, a questionar a validade das gravações como prova no processo uma vez que elas não teriam sido feitas com autorização do STF, a instância supostamente adequada para autorizar esse tipo de medida contra parlamentares com foro privilegiado.

Em 2016, quatro anos após ser cassado, o STF acatou a tese de sua defesa e anulou as provas da investigação ligando seu nome a Carlinhos Cachoeira.

Nos últimos anos, Torres ainda tentou voltar à vida política e se candidatou a deputado federal por Goiás em 2018, mas não conseguiu se eleger. Obteve 27.801 votos, menos de 1% do eleitorado.

Desde então, Torres vem se dedicando novamente à carreira jurídica e hoje comanda um escritório de advocacia com uma equipe de aproximadamente 20 pessoas.

Ele já atuou em casos de repercussão nacional como o do médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, condenado a mais 118 anos de prisão por crimes sexuais.

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