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“Nunca mais negocio a minha própria identidade”, diz educadora trans

Judá Nunes foi criada em ambiente preconceituoso e reprimiu seu gênero, mas anunciou publicamente que não negocia mais sua essência

24 jan 2023 - 05h00
(atualizado em 26/1/2023 às 17h20)
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Meu sonho era seguir com a carreira acadêmica, mas a transfobia me impediu de continuar o mestrado em Educação
Meu sonho era seguir com a carreira acadêmica, mas a transfobia me impediu de continuar o mestrado em Educação
Foto: Arquivo pessoal

Aos 25 anos, Judá Nunes não esconde mais quem é: uma mulher trans que merece respeito. Depois de sofrer transfobia no ambiente acadêmico e lutar para ter direito a ter uma carreira sem se esconder, ela se dedica a dar oportunidade de trabalho a todas as pessoas de grupos sociais vulnerabilizados. Judá é especialista em diversidade, equidade e inclusão. Além disso, é palestrante, consultora, educadora corporativa e criadora de conteúdo - é uma das Top Voices Orgulho do Linkedin. Leia a seguir seu depoimento e conheça sua história:

“Passei a minha infância e adolescência crescendo em uma família cristã, muito preconceituosa e isso fez com que minha identidade de gênero fosse reprimida por muito tempo. Mas, atualmente, estou vivendo minha melhor fase: aquela que eu realmente posso ser eu mesma!

Por muito tempo eu fui o que queriam que eu fosse, ainda que eu tenha criado para mim uma forma de desobedecer as expectativas que tinham sobre mim e sobre o meu gênero. Prometi que eu tentaria não ser o que eles queriam que eu fosse, mas negociaria comigo mesma sobre quem eu sou.

Esse acordo que eu fiz comigo mesma me permitiu transitar por muitos espaços. Mantive familiares por perto, participei de projetos sociais e educativos em colégios comunitários e outros particulares e, o mais importante, concluí a minha graduação com segurança.

Não foi nem de perto uma tarefa fácil, mas eu tinha um sonho e eu estava disposta a continuar negociando com a minha imagem e com a minha própria identidade mesmo que isso machucasse quem eu sou.

Depois de concluir minha licenciatura em Teatro, meu sonho era seguir com a carreira acadêmica, mas a transfobia me impediu de continuar o mestrado em Educação. Tive uma professora que não respeitava a minha identidade de gênero, nem os meus pronomes. Algumas situações foram tão violentas que eu preferi desistir do mestrado. 

Essa decisão teve impacto na minha situação profissional, pois sabemos bem o quanto uma pós-graduação facilita a integração no mercado de trabalho. Esse sonho ainda é algo que eu negocio comigo mesma. Já a minha identidade, nunca mais.

Acho que nunca antes na vida eu tive a certeza sobre os meus propósitos como eu tenho hoje. Passar por processos de dor e adoecimento numa graduação e a falta de oportunidades no mercado de trabalho me fez transicionar também a carreira.

Atuar com Diversidade, Equidade e Inclusão me faz visualizar um futuro do trabalho que nem mesmo eu tive oportunidade de ter ao me formar. Procurei emprego em muitas escolas particulares, mas sempre fui dispensada e nunca explicavam porque eu não seria apta para a vaga, pelo contrário, elogiavam meu currículo, a minha experiência como artista e como professora, mas no fim eu 'não fazia o perfil'.

O futuro do trabalho que eu acredito é um futuro onde pessoas trans, travestis e todas as outras pessoas que fazem parte de grupos sociais vulnerabilizados tenham oportunidades para provar o quão capazes elas são. Que a identidade de gênero, a orientação sexual, a idade, a característica física ou psicológica, a raça e a etnia não sejam limitadores e nem definem a qualidade profissional de ninguém.

Mesmo diante de dificuldades, continuarei trabalhando com impacto social positivo e transformação do mercado de trabalho.”

Você sabe o que significa o “T” da sigla LGBTQIA+?:
Fonte: Redação Nós
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