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Leia o depoimento de um sérvio sobre a revolução iugoslava
Petter Szucs

Sexta, 06 de outubro de 2000, 16h32min
O Terra entrou em contato com alguns sérvios que moram em Belgrado, ou próximo da capital iugoslava, para relatar como é viver o dia-a-dia da revolução. Enquanto o resto do mundo assiste às manifestações pela televisão, mais de 300 mil sérvios vão para as ruas protestar contra as fraudes ocorridas nas eleições.

Nas linhas que se seguem, você vai ler as impressões pessoais de Peter Szucs, um sérvio de 34 anos, formado em computação, que mora em Sombor, uma cidade de 75 mil habitantes, no norte da Iugoslávia.

Durante a maior parte do tempo dos meus últimos quatro anos, a minha rotina diária era acordar cedo e ir trabalhar até bem tarde da noite. Nas poucas horas que eu tinha livre eu utilizava para descansar ou sair com amigos. Esta rotina organizada foi perturbada nos últimos meses, quando o senhor Milosevic decidiu concorrer nas eleições presidenciais.

Desde alguns dias antes da votação (24/09) até agora, quase todos nós, sérvios, estamos famintos por informação. Eu passo horas do dia e da noite na frente do computador procurando, nas poucas páginas de jornais independentes sérvios, notícias atuais. Desde quando os primeiros resultados destas eleições começaram a sair - na minha cidade eles foram anunciados na frente da sede da minha empresa - ficou óbvio que o regime de Slobdam Milosevic estava chegando ao fim. Todas as notícias que chegaram naquela noite só me deram mais certeza disto, o que me fazia sentir uma grande satisfação. Logo as ruas se encheram de gente, meus amigos, minha família, todos foram para as ruas comemorar. As pessoas com quem eu conversava através da Internet também se mostravam felizes, tanto na iugoslávia, quanto no exterior.

Porém agora, enquanto eu escrevo este relato, um dia depois das grandes manifestações em Belgrado, eu tenho muitas dúvidas sobre a facilidade como as decisões foram tomadas, a facilidade com que o regime aceitou os fatos e a decisão da maioria dos votos. Eu ainda não sou capaz de ficar feliz porque conheço a habilidade das poderosas forças que dominaram este país na última década. Este poder foi fundado na ignorância do povo e baseado no nacionalismo primitivo do pior tipo. De tempos em tempos, o regime usou métodos alienantes, mexendo com sentimentos de orgulho nacional, misturados com opressão e terror, para meu total desagrado. Isto tudo culminou com as fraudes eleitorais - mais um em uma série de grandes erros que o regime cometeu nos últimos tempos.

As últimas semanas da minha vida foram dominadas por sentimentos de incerteza, tempos de exaltação e desespero enquanto as notícias vinham. Minha natureza é não ser violento, mas grande parte das pessoas no meu país estavam prontas para defender a sua vontade com força, se fosse preciso. E conforme os fatos foram acontecendo, a força foi realmente se mostrando necessária, principalmente nesta quinta-feira, 5 de outubro. Já estava muito clara há muito tempo a vontade sérvia que foi mostrada na praça de Belgrado. Nós todos sabíamos que o regime não iria desistir facilmente, e que aquela violência seria inevitável.

O sentimento das pessoas indo de ônibus para Belgrado era o sentimento de quem estava indo para uma batalha. E foi exatamente isso que aconteceu. Uma única faísca na frente do Parlamento Federal foi o suficiente para inflamar aquelas centenas, milhares de pessoas a mostrarem sua fúria e partirem para cima das instituições do regime, onde o senhor Milosevic está personificado. E as notícias que chegam enquanto escrevo este e-mail, de que a Corte Constitucional aceita a vitória de Kostunica no primeiro turno, fazem eu acreditar mais fortemente que este país viverá tempos de transição turbulenta.

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Redação Terra

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