Depois de cinco dias pousado a 108 metros de profundidade no agitado mar de Barents, o submarino russo Kursk está se convertendo, rapidamente, num caixão de aço para seus 118 tripulantes - isso se eles já não pereceram, disseram veteranos tripulantes de submarinos. A escuridão é quase total lá embaixo. Oficiais russos disseram que os reatores nucleares do submarino foram desligados ou apresentaram defeito depois do acidente. As grandes baterias do submergível estarão esgotadas em dois ou três dias. Lanternas elétricas e de pilha estão provavelmente se apagando, também.
E está frio. A temperatura da água ao redor é congelante. O calor residual nos canos do submarino há muito se dissipou, transformando o submarino numa espécie de lata afundada numa banheira de gelo. Marujos podem estar enrolados em cobertores. Mas, nas áreas mecânicas da parte de trás do submarino, eles provavelmente não têm roupas extras.
A umidade, mesmo da respiração dos homens, acaba formando uma fina camada de gelo sobre as superfícies de metal.
E está sufocante. O submarino russo pode ter um sistema de produção de oxigênio, mas ele também depende da eletricidade. Tanques de oxigênio podem ter sido danificados no acidente, e eles provavelmente já estão se esgotando. A claustrofobia persegue todo tripulante de submarino. Mesmo em condições normais, a menor mudança na qualidade do ar provoca pânico entre eles.
"Deve estar terrivelmente úmido, escuro e frio", disse Steve Collier de Bath, Ohio, um oficial reformado da Marinha dos EUA que serviu em três submarinos de 1973 a 1993.
O Kursk está deitado de lado em meio a fortes correntes e águas turvas, frustrando repetidas tentativas de resgate. Oficiais russos afirmaram que a proa foi provavelmente danificada por uma explosão, talvez num túnel de torpedos. Vários compartimentos foram inundados pela água do mar, levando o submarino para o fundo.
Veteranos tripulantes de submergíveis disseram que os marinheiros que estavam na proa do Kursk quase certamente estão mortos. Sobreviventes devem ter se abrigado na parte de trás do aparelho. Anteparos impermeáveis provavelmente dividiram a tripulação em pequenos grupos, aumentando o senso de vulnerabilidade.
"Todo tripulante de submarino sabe que amanhã isso pode acontecer com ele", afirmou o capitão da reserva russo Valerei Zelichonok, um comandante de submarinos que mudou para Israel em 1990.
"Eu ficava perturbado quando o fogo do meu cigarro apagava", lembrou Collier. "Significava que alguém tinha deixado a concentração de oxigênio diminuir um pouco. Mas a tripulação do Kursk estaria feliz com aquele nível de oxigênio, comparado com o que eles têm agora".
O drama russo faz Dan Persico, de Amsterdam, Nova York, lembrar das 48 angustiantes horas que passou preso no interior do USS Squalus, que afundou numa profundidade de 75 metros na costa de New Hampshire em 1939. Vinte e seis homens morreram. Persico foi um dos 33 sobreviventes que chegaram à superfície num sino de mergulho de nove toneladas, baixado por um navio de resgate.
O desastre do Squalus teve início quando uma falha mecânica durante um treinamento fez inundar a casa de máquinas do submarino.
Persico, hoje com 80 anos, era um marinheiro de 20 anos na sala de torpedos na proa. Ele e os outros marinheiros deitaram em silêncio no chão do tombado submarino por quase 24 horas. O resgate levou outro dia para se completar.
Mas a tripulação do Squalus tinha vantagens que a do Kursk não tem, disse Persico. "Tínhamos contato por rádio", explicou. "Sabíamos que o navio de resgate estava a caminho".
Os modernos submarinos são maravilhas da alta tecnologia que podem circunavegar o globo sem precisar ir à tona. Com 14 mil toneladas, o submarino nuclear Kursk é um dos 11 da classe Oscar II e um dos mais capazes da frota russa. Mas quando acontece um desastre, os modernos submarinos não são melhores do que seus limitados antecessores da Segunda Guerra Mundial.
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