Acidente do submarino afeta ambições da frota russa
Terça, 15 de agosto de 2000, 10h27min
A avaria do submarino nuclear Kursk, um dos orgulhos da frota russa, é um duro golpe para a Rússia do presidente Vladimir Putin, que tenta recuperar para seu país o status de grande potência marítima, bastante corroído após o fim da URSS. No final de julho, durante os festejos anuais da frota em Kaliningrado, Putin afirmou que se a Rússia queria "desempenhar um papel na nova ordem mundial" deveria "desenvolver sua marinha militar". A imprensa russa ressaltava hoje que os problemas no Kursk questionavam a envergadura de tais ambições. Para a Nezavissimaia Gazeta, os militares no Mar de Barents "lutam não só para salvar a tripulação e o submarino, mas também pelo futuro da frota". O Kursk, um submarino de propulsão nuclear do tipo polivalente, em serviço desde 1994, que pode embarcar 24 mísseis estratégicos, tinha que participar em novembro da primeira campanha da marinha russa no Mediterrâneo em dez anos. Segundo Vladimir Urban, analista da agência russa de informações militares AVN, a volta da Marinha russa ao Mediterrâneo foi decidida após os ataques da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à Iugoslávia, em março de 1999. "É evidente que se dois submarinos russos estivessem na região, estes ataques não teriam acontecido", disse Urban. Os militares russos também manifestaram inquietude em relação ao aumento da presença de navios da OTAN no Golfo Pérsico. O acidente do "Kursk voltou a levantar dúvidas sobre a capacidade da Marinha russa de cumprir suas funções, devido aos graves problemas financeiros que a atingem há dez anos. Em relação a isso, o Estado-Maior da Marinha informou que apenas 10% do montante necessário para a manutenção da frota em condições teriam sido aplicados neste período. Mas Urban também relativizou a responsabilidade russa no episódio: "Se tiver ocorrido uma colisão ou um problema técnico, a Rússia não tem o controle da situação, neste âmbito ultrasensível". Os submarinos russos da classe Oscar-II (classificação da OTAN) como o Kursk, 10 deles utilizados atualmente pela Rússia, são utilizados em todo o seu potencial" e não têm problemas de treinamento, segundo o especialista. Enquanto isso, o ministro da Defesa Igor Serguiev dizia hoje que a operação de resgate foi iniciada para tentar salvar a tripulação do "Kursk", a 100 metros de profundidade no Mar de Barents. Não foi fornecida informação alguma sobre o destino dos 116 marinheiros a bordo, mas as declarações do Estado-Maior das forças navais russas eram pessimistas.
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