Craig Venter, presidente da empresa privada americana Celera Genomics, e Daniel Cohen, do grupo francês GENSET, propuseram a criação de um parlamento mundial para estabelecer critérios éticos universais, até agora inexistentes, sobre as potenciais aplicações da decodificação do genoma humano.
"O que propomos é a criação de uma espécie de câmara alta parlamentar mundial", que seria "um órgão de deliberação composto por cientistas e filósofos experientes, com cerca de 60 membros", disseram os dois cientistas, em uma coluna de opinião publicada esta segunda-feira pelo jornal americano Los Angeles Times. Os parlamentares teriam um mandato de dois anos e prestariam assessoria às autoridades competentes em matéria de negócios e política, "com o peso de sua autoridade coletiva".
"Este órgão, quem sabe patrocinado pelas Nações Unidas, daria informações ao público sobre os dilemas de um avanço científico e proporia soluções", detalharam Venter e Cohen.
"Uma vez possuindo o mapa total do genoma humano, poderemos, na teoria, conceber um ser humano", explicaram, justificando a necessidade de legalizar as manipulações genéticas.
"A experiência histórica mostra que qualquer coisa é possível, cedo ou tarde", disse Venter, cuja empresa anunciou esta segunda-feira a decodificação quase total (97%) do genoma humano, junto com o consórcio público intenacional "Projeto Genoma Humano".
Venter também revelou que a decodificação do genoma de cinco pessoas de origem e cor diferentes mostra que o conceito de raça não tem fundamento genético.
"Fizemos a seqüência do genoma de três mulheres e dois homens, que se definiam como de origem hispânica, asiática, caucásia (branca) e afro-americana (negra), explicou Venter, durante uma entrevista coletiva à imprensa na Casa Branca, na presença do presidente Bill Clinton.
"Não o fizemos visando à exclusão, e sim para respeitar a diversidade da América e mostrar que o conceito de raça não tem fundamento genético ou científico", acrescentou o pesquisador. "É impossível dizer, a partir do genoma, a condição étnica de um ou de outro", concluiu.
O presidente da Celera Genomics anunciou ainda a realização de uma versão própria do genoma humano, utilizando um método diferente do empregado pelos pesquisadores do setor público.
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