Conquistar Nova York e dar certo no mundo da moda internacional é o sonho de
muitos estilistas de vários lugares do mundo. O processo, no entanto, pode
ser longo e não depender apenas de dinheiro, sorte ou contatos - mas de
intuição e visão. Ana Abdul, a brasiliense que abriu a loja Language em
1998, ao lado do marido, Lipe Medeiros, é um ótimo exemplo do quanto é
possÃvel transformar a experiência na chamada capital do mundo em inspiração
para a criação de novos conceitos.
Em quatro anos a loja virou um dos pontos mais observados da badalada região
de NoLIta; a versão online conquistou clientes em todos os continentes; e
Ana virou referência no universo fashion da cidade, ganhando elogios da
"Vogue" americana por sua primeira coleção própria (que leva a marca
Language e foi comprada pela badalada loja de departamentos Henri Bendel,
entre outras), e indo parar nas páginas da "Bazaar" em uma reportagem sobre
as mulheres .
Ana trocou BrasÃlia por Nova York em 1994, depois de fazer exposições em
várias cidades brasileiras. Passou uma temporada no estúdio da fotógrafa
Annie Leibovitz, abriu um ateliê na região do Meat Market e trabalhou no
MoMA. Em 1996, ela se casou com Lipe e os dois tiveram a idéia de abrir uma
loja para vender trabalhos dos dois. O sucesso começou antes mesmo da
inauguração: uma editora da "Vogue" americana publicou uma nota na revista
dizendo que a Language era a resposta nova-iorquina à Collete, de Paris.
O segredo da loja é a edição, refinada e cheia de identidade. "Em todo lugar
que vou, procuro ver as lojas estabelecidas, mas também ver o que tem de
novo e diferente, mesmo que seja a 45 minutos do centro da cidade, pego o
metrô e vou explorar outros bairros", diz.
Para os próximos tempos, a idéia é distribuir a marca para as melhores lojas
do mundo inteiro. "Queremos fortalecer a marca, para abrir, no futuro, lojas
em todo o mundo, mas apenas com o produto Language", diz. A julgar pela
primeira coleção, a marca tem tudo para emplacar. Ana desenvolveu roupas que
não se prendem a tendências atuais, com um brilhante trabalho de mistura de
materiais (de algodão barato a jeans vintage, passando por couros e seda) e
uma série de delicados detalhes, que são o charme da coleção. "Eu acho moda
muito chato, muito fútil", revela. "O que me interessa é a liberdade que
você tem hoje de não ter mais aquela coisa ditadora em termos de
comprimentos e tendências. O que importa hoje é o individualismo, como você
monta seu visual, seu guarda-roupa."