Moda Brasileira: foi um longo caminho
Terça-feira, 04 de fevereiro de 2003
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Gisele Bündchen no desfile de Ricardo Almeida e criação de Alexandre Herchcovitch para a edição inverno do SPFW
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Quem acompanha hoje a movimentação gigantesca em torno do São Paulo Fashion Week pode não ter idéia do quanto os profissionais ligados à moda brasileira tiveram de trabalhar duro e se organizar para tudo chegar onde chegou. Hoje, aqui em Nova York, muita gente que não é do mercado já ouviu falar no evento e conhece pelo menos nomes como Alexandre Herchcovitch, Tufi Duek e Walter Rodrigues. Dez anos atrás, no entanto, tudo era muito diferente.
A nova era da moda brasileira começou em 1993, quando Paulo Borges foi uma das forças por trás da primeira edição do Phytoervas Fashion, um evento de três dias e… três desfiles (Herchcovitch, Rodrigues e Cia. do Linho). Sim, as pessoas foram até um galpão na Vila OlÃmpia três noites em seguida para ver desfiles de moda. Estava dada a largada para o que virou o Phytoervas Fashion, mais tarde transferido para o prédio da Cardeal Arcoverde onde hoje é o Urbano. ConcorridÃssimos, os eventos de moda eram animados e um tanto ingênuos – perfeitos para o desenvolvimento de talentos variados.
Na metade dos anos 90, a moda brasileira já se organizava (embora as temporadas de lançamentos de esticassem por quase três meses), mas pouca gente sonhava em conquistar o mercado internacional. Aqui nos EUA, no auge da badalação em torno do New York Fashion Week , nem os mais bem informados tinham idéia de que se produziam roupas na "selva lá embaixo". Com a criação do Morumbi Fashion Brasil, bem mais tarde renomeado São Paulo Fashion Week, estava unificado o calendário da moda brasileira, uma contribuição incrÃvel para a indústria têxtil.
› Veja a cobertura completa do São Paulo Fashion Week
Correndo por fora, pouco antes da virada do milênio veio Gisele Bündchen impulsionando a febre das modelos brasileiras. Sim, elas tiveram uma participação muito grande em fazer americanos e europeus conectarem as palavras "moda" e "Brasil". Graças à beleza nacional, revistas internacionais desenvolveram uma curiosidade natural pelo paÃs. Em 1998, eu fui convidado para escrever um artigo sobre São Paulo para a descolada revista holandesa Dutch. Depois vieram a Vogue inglesa, a Big, a V e tantas outras.
Enquanto isso, no Brasil, estilistas e toda a estrutura da moda passaram por um processo de profissionalização obviamente impulsionado pela experiência nacional de conseguir se desenvolver mesmo em condições adversas. A cópia foi ficando de lado, problemas de produção, distribuição e elaboração de imagem foram sendo resolvidos e hoje o São Paulo Fashion Week deixa o mundo inteiro de queixo caÃdo.
Não, em Nova York, o evento não é tão grande e não conta com a mesma infra-estrutura. Em Paris, os lançamentos têm um tom de seriedade elitista, enquanto em Milão e Londres não ganham uma cobertura na imprensa que possa ser comparada à do Brasil. Em dez anos, o nosso mercado recuperou décadas de atraso e está preparado para um futuro promissor na indústria internacional.
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Guto Barra / Direto de NY
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