A FORÇA DA COMUNICAÇÃO DO RAP
por Zé da Flauta [músico e produtor]


A música sempre foi um grande veículo de comunicação, desde os tempos que vela dava curto circuito e candeeiro dava choque. Foi a Igreja quem primeiro usou esse recurso com o canto gregoriano, para a comunicação com o Divino. Bach, o grande músico, fez muitas cantatas e fugas de cunho religioso.

A propaganda sempre usou a música como trunfo de comunicação de massa, através de jingles. A ditadura militar usou várias músicas para levar ânimo e alegria a um povo privado de seus direitos. Os versos dessas canções eram cantados inclusive em desfiles colegiais, a exemplo de Eu te amo, meu Brasil, eu te amo, Esse é um país que vai pra frente, Noventa milhões em ação.

O Rap não é diferente. É uma música conscientizadora da classe oprimida e excluída que vive na periferia das grandes cidades. É um discurso, um protesto social que também lembra a questão racial.

A onda do Rap nasceu na periferia violenta de Nova Iorque ainda na década de 70, época dos Panteras Negras, e chegou ao Brasil nos anos 80, sendo bem aceito pela classe suburbana, que aproveitou para mandar o seu recado à sociedade e buscar cidadania através da arte.

A poesia do Rap fala do dia-a-dia das favelas e dos bairros pobres que pertencem a um Brasil real e não ao Brasil oficial, onde tudo é maravilha, riqueza - e impunidade. O Rap, assim como o Grafite, é uma forma de arte que serve como escape de uma classe injustiçada, que sofre tanto preconceito. Parece muito com o que acontece com o forró: "É música de pobre, de matuto, essas coisas!".

A importância social do Rap é muito grande no sentido de tirar jovens de um mundo marginalizado, sem futuro e desesperador, para o trabalho, a convivência sadia. Alguns chegam à fama e à glória.

O que acontece em Pernambuco não é diferente dos outros lugares. Bandas como Faces do Subúrbio, Sistema X, Spider e Incógnita Rap levam a sério o que fazem e mudaram muitas coisas nos lugares onde moram. Influenciaram outras bandas e mandam seus recados em forma de música.

O Rap influenciou muito o movimento mangue. Chico Science gostava muito do hip-hop, que até hoje o Nação Zumbi traz no seu som. Assim como os reppers de São Paulo e Rio de Janeiro que misturam umbanda e samba ao seus sons, aqui em Pernambuco metemos a embolada, o coco e o maracatu nele.

É muito fácil dizer que "Rap é tudo igual", mas existe uma diversidade musical, ritmica e poética muito grande. Seria a mesma coisa que dizer que samba-enredo, frevo de rua, blues e forró são iguais.

Junto com o Movimento dos Sem-Terra, o Rap está sendo um fenômeno de força política entre os jovens do novo milênio e ainda vem muita coisa por ai.



Até a próxima!




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