"Eu vou tomando tudo até a última concha!"
por Zé da Flauta [músico e produtor]


Quem nunca foi à Soparia, quando era no Pólo Pina, não sabe o que perdeu. quem ainda não foi ao Pina de Copacabana, no Recife Antigo, não sabe o que está perdendo. É realmente o que existe de novo na cidade.

Quando Roger de Renor (proprietário da Soparia, aquele da música “Macô”, de Chico Science) saiu do Pina (o bairro) e abriu seu novo bar no Recife Antigo, todos perguntavam: “Será que vai dá certo?” E Roger mostrou que onde quer que ele monte seu estabelecimento, a turma não deixará de ir. Músicos, atores, cineastas, artistas plásticos, estilistas, jornalistas estão sempre alí trocando idéias. outro dia, estavam numa mesa conversando Jerry Robinson, o criador do Coringa e fundador da equipe que desenhava Batman, e Lailson Cavalcanti, nosso grande cartunista do jornal Diário de Pernambuco.

No Pina de Copacabana respira-se liberdade. A começar pela radiola de ficha, onde a gente escolhe a música de nossa preferência. Isso sem falar nos shows que por lá rolam. Já vi cada um do caralho, principalmente no Pina “original”: Chico Science e Nação Zumbi, Mestre Ambrósio, Zé Neguinho do Côco, Lula Côrtes e Má Companhia, Querosene Jacaré, Via Sat, Eddie, Dj Dolores, Edmilson do Pífano, Pedro Luiz e a Parede (com participação de Lenine e Lula Queiroga) e outros. É como se fosse o Cavern Club (famoso pub inglês no qual os Beatles já tocaram) do movimento Mangue. Todos ou quase todos passaram por lá, gregos e troianos, do mais simples artista popular ao pop e o tecno, sem preconceito e com as mesmas condições.

No carnaval desse ano, a Sopa já instalada no Bairro do Recife, surgiu uma novidade. O Festival RecBeat e o Quanta Ladeira, que aconteciam no Centro Luiz Freire, em Olinda, mudaram-se para a Rua da Moeda, em frente ao Pina de Copacabana. Foi a melhor edição do festival de rock que sempre é realizado no período momesco e também a melhor apresentação do bloco anárquico-carnavalesco fundado por mim Lenine e Lula Queiroga. Agora, o engraçado mesmo é que, de repente, criou-se dois diferentes pólos carnavalescos no Recife Antigo. O da Sopa, que ficou sendo o reduto dos mangueboys, e o da Rua do Bom Jesus, onde se concentrou um público mais saudosista. O clima era totalmente diferente, a partir das próprias “evocações”. Enquanto na Bom Jesus entoava-se “Cadê Mário Melo?” (refrão de um conhecido frevo de bloco), o refrão que agitava os foliões da Manguecéia era “Cadê Roger? Cadê Roger?”.

A mais recente invenção de Roger, que vem dando o maior pé e que quando parar vai dar saudades, é a Dominguetes. Todo Domingo, no final da tarde, tem o côco de Rojão e Lia de Itamaracá, que a cada evento vem aumentando o tamanho da roda de ciranda. Neste período junino vão acontecer muitas novidades por lá. O forró vai comer solto e terá quadrilha improvisada na noite de São João.

Quem quiser saber das novidades, o que tá rolando na cidade, passe por lá. O Pina de Copacabana é o termômetro cultural da atualidade. Só deixam saudades aquelas terças-feiras ao som da Má Companhia. Mas tem nada não, Enquanto tiver sopa, eu vou tomando tudo, até a ultima concha!

Até a próxima!




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