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Eu e toda a galera do Querosene (Alfaia, Tonca e Cinval) agradecemos o apoio que estamos recebendo dos nossos amigos e fãs do Estado e de fora dele. Confesso que a ficha ainda não caiu direito. Particularmente, vai ser foda pra mim tocar sem o Gordinho ao meu lado, afinal baixo e bateria são como unha e carne. Inclusive, nós costumávamos dizer pra ele: "Gordinho, cara, graças a Deus que os baixistas que convidamos pra tocar com a gente, depois que Alfaia foi para os vocais, não entraram na banda..." A sua volta ao grupo foi fundamental. Nunca havia tocado numa banda em que a harmonia, o respeito e o entrosamento fossem tão fortes. Não tinha essa frescura de o "líder" (sinceramente, isso está mais pra partido político), o pop-star, o fodão, o tampa de crush e todas essas coisas que a gente sabe que existe, mas que são, muitas vezes, maximizadas em demasia (olha a redundância) pela imprensa.
Na hora das composições, era incrível como todas as linhas de baixo que ele criava casavam perfeitamente com o que o resto da banda executava. Parece frescura, mas isso nos deixava com um sorriso no rosto. Aliás, notem que tudo que está ligado ao sagrado ato de criar nos proporciona prazer, seres humanos. Compor, pintar, escrever, tocar, atuar, transar... No intervalo da passagem de som do Rec Beat Carnaval 99 (sua reestréia no Querosene) - quando dividíamos um peixe frito, com feijão, arroz e umas verdurinhas, lá no Bar Royal, bairro do Recife - , ele me falou meio que com vergonha: "Tô um pouquinho nervoso". Dei-lhe uma batidinha nas costas e disse: "Que nada Gordinho, tu toca bem pra caramba e, qualquer coisa, estou aqui em cima. Na dúvida, olha pra mim ou pra Tonca (nosso guitarrista)..." E ele foi lá e arrasou. Ironicamente, o seu último show conosco foi na edição 2000, desse que agora é o festival mais legal da cidade – no qual todo artista é tratado como dever ser: com respeito e atenção. Agora, mais do que nunca, temos a obrigação de terminar as gravações de Fique Peixe, nosso novo disco. Nele estão algumas das linhas de baixo mais bonitas e vigorosas já gravadas aqui na província. Ainda estamos pensando no que fazer: se Alfaia tenta dar uma de Paul MacCartney ou se chamamos outro baixista. Mas, vamos em frente. Também fizemos um pacto entre nós: ninguém mais da banda pode morrer por pelo menos mais trinta anos. Assim, quando completarmos quinze anos de carreira podemos gravar nosso "Acústico Querosene Jacaré"... J Bem, Gordinho, foi ótimo te conhecer, tocar com você, conversar sobre mulheres, Bob Marley, Jorge Ben, Led Zeppelin etc. Sei que nós do Querosene, a galera do Supersoniques, do Jorge Cabeleira, do River Raid, DMP, Das Night, da O & M, da UFPE, Nicolau, Iara, Ida, Michelle, Lula, Luiza, Mônica, sua querida Mãe, dona Ada, suas irmãs, Paula e seus outros milhares de amigos vamos nos encontrar um dia com você; mas é meio chato ficar tanto tempo sem sua companhia... Até mais tarde (bem mais tarde...)
Leia mais sobre o crime no Diário de Pernambuco: https://www.dpnet.com.br/2000/05/03/urbana4_0.html |