Hogwarts Legacy: Entenda a polêmica por trás do jogo
Falas e ações da criadora de Harry Potter levaram muitos criadores de conteúdo ao boicote
Um novo game ambientado no mundo do bruxo Harry Potter, Hogwarts Legacy, chega nesta semana com os fãs divividos entre a ancecipação pelo lançamento e a controvérsia por jogar algo que envolve a escritora J.K. Rowlings, criadora da franquia conhecida como 'Mundo Bruxo'. Entenda os motivos que afastaram muitos criadores de conteúdo e fãs do novo game.
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Qual é a controvérsia sobre Hogwarts Legacy?
Anunciado em setembro de 2020 em um evento de PlayStation, Hogwarts Legacy é um RPG de ação e aventura em mundo aberto, em que o jogador cria seu personagem e se torna um estudante da icônica escola de bruxaria Hogwarts, a mesma frequentada por Harry, Hermione e seus amigos.
Uma recriação detalhada de Hogwarts, mas com uma trama original, ambientada em 1800, muito antes dos filmes de Harry Potter ou mesmo de Animais Fantásticos, Hogwarts Legacy tem um apelo incrível para os fãs que cresceram consumindo livros e filmes da franquia.
Porém, as posições políticas e declarações da escritora J.K. Rowling, criadora de Harry Potter, sobre questões de identidade de gênero, afastaram muitas pessoas que antes eram fãs declaradas desse universo de magia.
Em 2020, Rowling publicou um longo artigo em seu blog pessoal atacando uma mudança nas leis da Escócia (a escritora mora em Edinburgo) que permitiria que cidadãos mudassem o gênero identificado em seuas certidões de nascimento sem um diagnóstico médico. Para a autora, leis que fossem inclusivas para a comunidade trans seriam contra os direitos das mulheres.
Rowling também publicou um romance intitulado Sangue Revolto, no mesmo ano, usando o pseudônimo Robert Galbraith. No livro, um assassino em série se veste de mulher enquanto comete seus crimes. A obra foi condenada por organizações que lutam pelos direitos LGBTQIA+, mas celebridades amigas de Rowling defenderam a autora. Atualmente, Sangue Revolto está no quinto volume.
Em 2022, Rowling passou a se reunir publicamente com outras mulheres que pensam da mesma forma e se identificam como TERF, sigla em inglês para 'feministas radicais trans-excludentes'. As opiniões da escritora foram citadas por senadores do partido Republicano quando uma lei de igualdade de direitos LGBTQ foi barrada no Congresso dos EUA no ano passado.
J.K. Rowling tem ligação com Hogwarts Legacy?
A autora de Harry Potter não tem ligação direta com Hogwarts Legacy. Logo após a revelação do game em 2020, a WB Games afirmou em um FAQ que o jogo "não é uma história de J.K. Rowling" e que a escritora "não está diretamente envolvida na criação do game". Porém, o jogo é baseado no universo criado por Rowling desde o primeiro livro, publicado em 1997.
A produtora norte-americana Avalanche Software, adquirida pela WB Games em 2017, é responsável pela produção, sob o selo Portkey Games, criado pela Warner para supervisionar jogos envolvendo a licença de Harry Potter.
Assim como acontece com outros produtos licenciados, incluindo os 11 filmes do Mundo Bruxo (oito adaptações de Harry Potter e a trilogia Animais Fantásticos), Rowlings é beneficiada pela publicação e vendas de Hogwarts Legacy - mas não se sabe publicamente se a autora recebe uma porcentagem das vendas, royalties ou um pagamento único pela licença para a adaptação da obra em um novo jogo.
Embora o universo de Harry Potter tenha muitos elementos considerados reacionários pela sociedade atual, como a organização patriarcal da sociedade bruxa, Hogwarts Legacy não parece refletir a mentalidade de Rowlings.
De fato, o jogador pode criar qualquer tipo de personagem, independente de gênero, com vozes, aparência, roupas e formato de corpo que quiser, escolhendo ao final para qual dormitório o novo aluno ou aluna será enviado. Não há, porém, opção de gênero neutro, como acontece em muitos jogos recentes.
Também é bom notar que, apesar da WB Games desassociar o jogo da criadora de Harry Potter, a própria Rowlings considera o novo game como uma extensão de sua criação.
Boicote dos criadores de conteúdo
Muitos criadores de conteúdo que discordam das posições anti-trans de Rowlings decidiram boicotar o novo game e não falar sobre Hogwarts Legacy em seus canais no YouTube, Twitch, podcasts ou outras plataformas, o que resultou em uma grande discussão sobre como separar obra e autor e discussões sobre ser certo ou errado jogar o game.
Alguns criadores optaram por uma outra abordagem: fazer lives de Hogwarts Legacy e com isso, apoiar a comunidade trans. É o caso de Wanessa Wolf, que vai jogar o game em seu canal no Facebook Gaming no dia do lançamento e enviar todas as doações que receber no dia para uma instituição que acolhe pessoas trans:
Que atitude EXEMPLAR da @wanessaw0lf! 👏👏
Ao invés de ficar militando no twitter contra quem vai jogar Hogwarts Legacy, ela prefere boicotar a transfobia da autora doando todas as doações da live, no dia do lançamento do jogo, pra instituição que acolhe pessoas TRANS! pic.twitter.com/BDEFKNdSkC
— Vinícius 🎮 Hogwarts Legacy / PSVR2 (@vih8p) February 5, 2023
Hogwarts Legacy chega em 10 de fevereiro para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X/S - você pode ler aqui a análise do Game On. O jogo também terá versões para PS4, Switch e Xbox One, que serão lançadas posteriormente.
