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Conheça os riscos e benefícios dos jogos para crianças

Como qualquer tecnologia, os videogames tem lados bons e ruins, mas, definitivamente podem ser usados na educação

13 ago 2021 - 10h00
(atualizado às 14h51)
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Todos os pais que criaram, estão criando ou vão criar seus filhos no mundo cada vez mais tecnológico e digital em que vivemos devem ter passado pelos mesmos dilemas: jogos para crianças são benéficos ou maléficos? Crianças podem jogar? Com o que devo me preocupar caso eu deixe meu filho ou filha jogar videogame?

Bem, como tudo neste planeta, a resposta é muito mais complexa do que simples, e não há uma conclusão absolutamente definitiva. O que podemos dizer é que, sim, há benefícios e malefícios dos jogos para crianças, e, nesta especialíssima matéria, vamos tentar explicar da melhor possível quais são esses prós e contras, como entendê-los e aplicá-los na vida do seu pequenino. Vamos lá?

Videogames como um meio

Tentando não ficar muito técnicos, vamos falar sobre os jogos como a tecnologia e o meio que representam. Em seu livro de 2006 How Computer Games Help Children Learn (“Como jogos de computador ajudam as crianças a aprender“, em tradução livre), David Williamsom Shaffer traz um conceito muito interessante de outro autor, o estudioso de mídia Marshall McLuhan, que diz que “conteúdo” é como um pedaço suculento de carne que um ladrão usa para distrair um cão de guarda.

O que isso quer dizer é que qualquer tecnologia, por mais antiga que seja, não é nem boa e nem ruim — mas sim, pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal.

David Williamson Shaffer é o autor de um dos estudos mais otimistas em relação ao uso dos jogos para crianças — especialmente no aprendizado.
David Williamson Shaffer é o autor de um dos estudos mais otimistas em relação ao uso dos jogos para crianças — especialmente no aprendizado.
Foto: Reprodução

Essa ideia se aplica à televisão, aos celulares, aos computadores e videogames também. O fato de podermos ler e escrever é mais poderoso do que o conteúdo de qualquer livro, por melhor que seja: o que importa é que consigamos aprender com isso.

Com os jogos eletrônicos, a base é a mesma. Shaffer, em seu livro, comenta que, no mundo em que vivemos, a educação oferecida pela grande maioria das escolas de fato ensina muito do básico aos alunos — matemática, geografia, história, física — mas falha em passar conhecimentos essenciais para que os alunos consigam resolver os problemas complexos apresentados no dia-a-dia, seja no trabalho, nas relações sociais ou até mesmo em casa, no gerenciamento das contas, por exemplo.

Nesse sentido, o autor comenta que os computadores — e seu subproduto, os videogames — conseguem nos apresentar poderosas simulações do mundo real de maneria lúdica e acessível, nos ensinando a executar atividades às quais não teríamos acesso de outra maneira.

Afinal, quem de nós, sem estudar arquitetura e mexer em programas complexos, poderia projetar uma casa mobiliada inteira se não em jogos como The Sims? A tecnologia, no fim das contas, mudou o que significa saber algo e saber fazer algo. O potencial de ensino que isso tem é inegável — no entanto, não está livre de problemas.

Benefícios dos jogos para crianças: educação e pediatria

Com base nessas ideias, Shaffer traz um exemplo interessante de como jogos podem ter muitos benefícios ao aprendizado das crianças: no caso, o game Roller Coaster Tycoon, onde o jogador tem de construir e gerenciar um parque de diversões.

Para ser bem-sucedido no jogo, é preciso fazer coisas como projetar montanhas-russas, planejar a colocação de atrações de forma relativamente complexa, gerenciar a parte econômica do parque — envolvendo gastos e lucros, e mesmo planilhas e gráficos — e até mexer no quadro de funcionários, os treinando para o trabalho, dando aumentos ou os demitindo. Essa complexidade pode ensinar muitas coisas aos pequeninos, e, nesse sentido, desenvolver habilidades que eles poderão usar na vida adulta.

Roller Coaster Tycoon pode ajudar a criança a aprender gerenciamentos complexos e até negócios — tudo isso enquanto se diverte pra caramba.
Roller Coaster Tycoon pode ajudar a criança a aprender gerenciamentos complexos e até negócios — tudo isso enquanto se diverte pra caramba.
Foto: Reprodução

Até mesmo outros jogos mais fantasiosos e descolados da realidade, como Minecraft, ajudam a desenvolver a criatividade ao permitir que o jogador se movimente e construa livremente, criando formas e deixando a imaginação fluir.

Além disso, há jogos que lidam diretamente com conhecimentos aprendidos na escola, como os que tratam de história diretamenteAssassin’s Creed sendo provavelmente o bastião do gênero. Apesar do aspecto violento do game, as últimas edições incluem o Discovery Mode, que transforma a experiência em um tour pacífico, como uma visita guiada a um museu. Tudo utilizando os incríveis visuais e recriações que a tecnologia atual permite.

Jogadores mais interessados por matemática, física ou engenharia também podem se deliciar em obras como Polybridge, que envolve a construção de pontes que precisam aguentar o tráfego, ou Kerbal Space Program, que envolve a construção e execução de um programa espacial, com viagens à lua e outros planetas. Claro, eles podem ser mais complexos do que uma criança poderia entender, mas são lúdicos o suficiente para prender o interesse e, com o acompanhamento dos pais, podem se tornar uma atividade bem divertida.

Jogos para crianças hospitalizadas são uma ótima oportunidade de distração, ajudando — e muito — na sua qualidade de vida.
Jogos para crianças hospitalizadas são uma ótima oportunidade de distração, ajudando — e muito — na sua qualidade de vida.
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Há exemplos concretos de situações em que os jogos têm um impacto benéfico direto na vida das crianças: a recente profissão de Especialista em Tecnologia de Jogos em Pediatria é um deles. O hospital infantil Logan Health em Kalispell, Estados Unidos, utiliza videogames para recreação, uma atividade terapêutica que faz seus pequenos pacientes se sentirem mais em casa, esquecerem dos traumas e problemas pelos quais estão passando, mesmo que por um curto período no dia. Jogar em grupo e conversar ajuda na distração e deixa as crianças mais confortáveis, o que alivia bastante o clima geralmente pesado de um hospital.

Malefícios dos jogos para crianças: violência e predadores

Nem tudo são flores, no entanto, e os videogames também podem acabar trazendo alguns reveses para a vida dos pequenos. Certamente a maior das controvérsias acerca dos jogos eletrônicos é a questão da violência — muitos jogos têm como base a luta entre personagens, o uso de armas de fogo ou mesmo cenas perturbadoras, como desmembramentos e decapitações. Jogos controversos (e, em alguns casos, até banidos) incluem Mortal Kombat, Doom e Call of Duty.

Em um artigo bem completo de 2019, a estadunidense Vox entrevistou tanto indivíduos que criticam a violência dos jogos quanto outros que têm uma visão mais crítica sobre o tema. As conclusões são muito interessantes.

O artigo, é claro, é voltado para a realidade dos Estados Unidos, onde muitos incidentes envolvendo tiroteios em escolas ocorreram nas últimas décadas, mas vale para o mundo todo — lembrando que, infelizmente, o Brasil já teve casos semelhantes. A conclusão dos estudiosos é que não, os videogames sozinhos não são a causa da violência e dos incidentes armados nas escolas, mas também seria ingenuidade afirmarmos que os jogos não têm absolutamente nada a ver com incitações violentas.

Violência em jogos digitais e exposição em demasia

A exposição indiscriminada de crianças a jogos violentos pode ser prejudicial — mas isso vale para todo tipo de conteúdo também.
A exposição indiscriminada de crianças a jogos violentos pode ser prejudicial — mas isso vale para todo tipo de conteúdo também.
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Além disso, a frequência da exposição aos videogames também pode ser um problema — especialmente no caso de jogos violentos, mas não só eles. O vício em qualquer jogo pode acabar sendo prejudicial, mesmo que seja um inofensivo The Sims.

A resposta, como sempre, é mais complexa: no caso dos EUA, há uma cultura de armamentismo e fascínio com armas de fogo, bem como uma cultura psicologicamente tóxica que divide a população entre “vencedores” e “perdedores”. Às vezes, a pressão é tamanha que alguns indivíduos com menos suporte psicológico acabam ficando perturbados e partem para a violência — especialmente quando outros problemas mentais já afligem a cabeça da pessoa em questão.

Os jogos não são a base do comportamento violento, mas fazem, sim, parte de uma cultura de glorificação da violência. Títulos como Borderlands ou Destiny têm muito de sua publicidade voltada à quantidade de armas e combinações bélicas possíveis dentro de seus jogos.

O grande problema é que muitos políticos acabam usando os games como um bode expiatório: é fácil criticar uma mídia específica e dizer que ela é a culpada de todos os problemas de violência do país, especialmente quando é uma indústria com pouca influência política. A indústria armamentista, pelo menos nos EUA, tem muito poder de lobby — o que gerou a imbecil decisão do Walmart de banir os jogos de suas prateleiras em 2019, enquanto continuavam a vender armas nas mesmas lojas.

Por outro lado, a comunidade de jogadores também tem seus extremismos: alguns gamers apenas dizem que os jogos não têm nada a ver com a violência, falhando em discutir o assunto e reconhecer que, em alguns casos, a influência existe, sim. Infelizmente, não existem respostas prontas e fáceis que resolvam o problema.

Além disso, há a questão dos predadores sexuais, que encontram nos jogos online uma chance de interagir com crianças e descobrir dados pessoais ou coisas piores. Segundo o FBI, agência de inteligência dos EUA, as crianças de 12 a 15 anos são as mais vulneráveis — nessa idade, os pais já monitoram menos seus filhos e, às vezes, não os educaram o suficiente para conseguirem evitar estranhos na internet.

Crianças podem jogar, então? Como proceder?

Deixar crianças sem supervisão ou instruções para lidar com estranhos na internet pode ser bem problemático.
Deixar crianças sem supervisão ou instruções para lidar com estranhos na internet pode ser bem problemático.
Foto: Reprodução

Bem, como você já deve ter notado lendo os parágrafos anteriores, há, é claro, um lado bom e um lado ruim dos videogames para os pequenos. A reposta, no fim das contas, é sim! As crianças podem jogar. No entanto, com supervisão e controle dos conteúdos consumidos. Os pais, é claro, nem sempre poderão estar presentes quando os filhos estão jogando, mas podem tomar algumas medidas que ajudam nesse controle.

O FBI dá algumas dicas, como deixar o computador que seu filho usa em um lugar aberto e visível na casa, garantir que seu filho saiba que pode te contar sobre interações estranhas na internet e explicar que ele não pode compartilhar coisas pessoais com estranhos — especialmente online.

Também é recomendado saber os nomes de usuário e senhas do seu filho para os jogos e sites que ele frequenta, e informar a criança de que você vai checar essas contas ocasionalmente. Nesse ponto da vida, a segurança é mais importante do que a privacidade. Quanto à questão de idade, é difícil definir quando seu filho estará maduro o suficiente para se aventurar sozinho pela internet — não há resposta definitiva, e ninguém melhor do que os próprios pais para saber isso. Como já citamos, o FBI recomenda atenção especial às idades de 12 a 15 anos, também incluindo, é claro, crianças mais novas do que isso.

Outra coisa interessante de se fazer e que, além de evitar a jogatina excessiva, também ensina um pouco de disciplina, é a gameficação de tarefas: ou seja, um sistema de recompensas para seu filho. Você pode, por exemplo, dizer que o pequeno poderá ficar uma hora no computador caso arrume o quarto, e ganhar mais uma hora se fizer as tarefas da escola até um determinado horário, e por aí vai. A grande maioria dos jogos usa sistemas de recompensa por tarefas realizadas — porque não aplicar isso em casa, né? De certa forma, isso também é um jogo. Há até mesmo aplicativos que ajudam nisso, como o Habitica.

O Discovery Mode de Assassin’s Creed tem até mesmo modos voltados para educadores — incluindo testes de conhecimento e tudo!
O Discovery Mode de Assassin’s Creed tem até mesmo modos voltados para educadores — incluindo testes de conhecimento e tudo!
Foto: Ubisoft

Quando possível, também, jogue com seu filho! Mostre que essa atividade pode ser saudável e construtiva. Em uma de suas sessões conclusivas, Shaffer traz uma colocação excelente: ele diz que há jogos bons e ruins, assim como há livros bons e ruins — e a única forma de garantir que seu filho esteja lendo um bom livro é ser, você mesmo, alfabetizado, alguém que pode ler e decidir qual livro é o melhor para ele. Se você fosse analfabeto, dificilmente saberia qual livro é ruim e prejudicial, não é? Para os pais, então, resta encontrar e conhecer jogos bons e educativos para jogar com os pequenos.

Os professores podem também, nesse sentido, encontrar jogos que possam trazer uma oportunidade de aprendizado na sala de aula — trazendo games que ajudem as crianças a pensar de formas produtivas, criativas e inovadoras envolvendo as tecnologias e complexidades que as cercam. Shaffer diz: as coisas que garantem sucesso, felicidade e a habilidade de fazer do mundo um lugar melhor são as coisas que valem a pena ser aprendidas — e os jogos que trazem isso são os que valem a pena serem jogados.

Fonte: Game On
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