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Jogos de Paris

Temor e esperança nos Jogos Olímpicos

Por causa da pandemia, o Japão impôs severas restrições à entrada de estrangeiros

20 jul 2021 - 05h10
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Partindo do Catar, o voo que trouxe a reportagem do Estadão para Tóquio estava com praticamente todos os assentos ocupados por representantes olímpicos vestindo uniformes de países como Geórgia, Egito, Grécia, Irlanda, Tunísia, Argentina, Sérvia e Irã, entre outros. Eram atletas fortões do levantamento peso ou magricelas do tênis de mesa, além de treinadores e médicos de várias partes do mundo se encontrando dentro de um avião com destino ao Japão.

A explicação para essa incomum "união de povos" é simples: por causa da pandemia, o Japão impôs severas restrições à entrada de estrangeiros. Assim, o número de aeronaves com destino ao país reduziu drasticamente. Voos estão sendo agrupados e, por isso, tantos membros de tantas delegações diferentes estavam no mesmo avião que nós e outros jornalistas.

O Japão vive um momento excepcional por causa dos Jogos. Participar de alguma maneira da Olimpíada significa fazer parte dessa exceção. O fantasma da covid-19 ronda os Jogos de Tóquio o tempo todo. Ser contaminado é o maior pesadelo que pode acontecer com qualquer credenciado, seja atleta, técnico ou jornalista. Os números ainda são pequenos (58 casos positivos) se comparados à enorme quantidade de testes (mais de 30 mil), mas se o resultado der positivo, já era. São 14 dias de quarentena obrigatória e praticamente o fim da sua participação.

Como a preocupação no Japão é evitar que estrangeiros aumentem ainda mais a disseminação do vírus no país, os protocolos de entrada são bastante rigorosos para qualquer um que vá participar da Olimpíada. É obrigatório apresentar dois testes negativos feitos com 96 horas e 72 horas antes do embarque para o Japão. Na chegada, outro teste é realizado, por saliva, e a pessoa só deixa o aeroporto após o resultado negativo. A triagem continua nos três dias subsequentes. A partir daí, a verificação é menos frequente, mas o monitoramento continua. Tudo isso para poder realizar a Olimpíada durante um período de pandemia no mundo.

Claro que o grande temor do Comitê Organizador é com a reunião de pessoas de diversas partes do mundo em um só lugar. A segurança na saúde começa com boa higiene, uso obrigatório de máscaras e distanciamento social. Para além disso, o deslocamento para outras partes da capital japonesa que não sejam estruturas dos Jogos Olímpicos está vetado. Quem sair da linha pode, inclusive, ter sua credencial confiscada. A cada caso positivo que aparece, um novo recado é dado à comunidade olímpica: se cuidem, pois é a única forma de realizar esta edição dos Jogos com mais segurança.

Tóquio não está tão eufórica com os Jogos como costuma ocorrer com cidades escolhidas para receber o maior evento esportivo do mundo. Inclusive, pesquisas de opinião apontam forte rejeição de grande parte dos moradores à Olimpíada. Na verdade, esses levantamentos só servem para dar números a situações vividas por colegas que estão na capital japonesa há mais tempo do que nós e chegaram a ser hostilizados ao tentar entrar em uma loja de conveniência. O medo é de que os estrangeiros tragam novas variantes do novo coronavírus ao Japão e provoquem uma explosão de casos de covid-19 no país. Mas, a esperança é de que os Jogos Olímpicos, mesmo com tantas restrições e medos, possam ser o símbolo maior de que a humanidade caminha para vencer o vírus.

Voltando ao avião rumo a Tóquio: ao nosso lado estavam sentados um atleta da Geórgia e outro da Irlanda, ambos de máscara. Em dado momento, o irlandês jogou álcool em gel na mão do "rival", explicou como acessar à Internet durante o voo e ainda o auxiliou na hora de decifrar o estranho cardápio oferecido pela aeromoça. Esse é o espírito olímpico. Esse é o espírito da humanidade em meio à pandemia, pois somente com um pacto coletivo é que conseguiremos derrotar a covid-19.

Estadão
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