Vitória do Corinthians mostra que zagueiro que pensa decide jogo
Habilidade de Gustavo Henrique iniciou a jogada do gol decisivo. Editores de vídeo eliminam lance dos melhores momentos
Nem vídeos na internet, nem comentaristas esportivos fizeram justiça ao lance inteligente do zagueiro corintiano, que poderia ter dado um chutão, isolando a jogada, mas percebeu a possibilidade de armar um contra-ataque matador.
O gol da vitória do Corinthians no primeiro jogo da final do Campeonato Paulista contra o Palmeiras foi de Yuri Alberto. Ele recebeu a bola de Memphis Depay, que havia recebido de Carrillo. A bola chegou nele com um passe inteligente e habilidoso do zagueiro Gustavo Henrique – e esta é a jogada decisiva.
Uma pena que os editores de vídeo mostrem o lance a partir de Depay, é a cabeça limitadíssima de quem só enxerga o gol. Mas ele nasceu da calma, inteligência e habilidade (pelo menos no lance em questão) do zagueiro do Corinthians.
No começo da jogada, Estêvão avançou e tentou passar por três corintianos. Trombou, caiu e a bola ficou com Gustavo Henrique. Qual teria sido a reação normal de um zagueiro cabeça de bagre? Chutão para a frente, acabando de vez com o contra-ataque palmeirense, a saída medíocre, comum, de isolar a bola, afastando o perigo.
Mas não: Gustavo Henrique fez o que, entre outros nomes, se chama “colherada”. Não é um chute, é muito mais refinado. Consiste em enfiar o pé debaixo da bola, levantá-la e lançar como se fosse com a mão. Coisa linda, e penso que quem aprecia futebol, mesmo não sendo corintiano, admite a beleza, a sutileza, a inteligência da jogada.
O toque maravilhoso foi para Carrillo, que fez o básico, tocou para Depay. O holandês deu sorte, tentou passar por dois palmeirenses, trombou, a bola sobrou e ele enfiou para Yuri Alberto. O atacante fez o que tinha que fazer: cortou para dentro e chutou no canto.
Na comemoração, Depay fez o gesto de engraxar a chuteira do autor do gol. Gustavo Henrique é quem merecia. Depois do jogo, fiquei zapeando canais, imaginei que os comentaristas, especialistas, cheios de razão, histéricos ou eufóricos, fossem comentar o grande lance do zagueiro.
Posso ter perdido alguém exaltando Gustavo Henrique. Os cometaristas que vi, como sempre, foram óbvios demais para enxergar além do gol, quer dizer, antes do gol. É que, para muitos deles, craque é só quem joga "do meio pra frente"...