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Marcos Caetano
Domingo, 30 Junho de 2002, 17h23
terraesportes@terra.com.br

Futebol cinco estrelas


Direto de Yokohama - Nos meus sonhos, o Brasil é sempre campeão. Isso não passou a ocorrer aqui no Japão, ou quando escrevi meus primeiros textos sobre futebol, e nem mesmo é uma coisa que eu possa determinar quando começou. Mas desde as brincadeiras de criança, quando chutava a surrada bola de meia em direção ao gol que era a porta do quarto da avó, durante as narrações de clássicos imaginários disputados com botões na mesa de fórmica da cozinha e mesmo quando, depois de muito me divertir, finalmente me rendia ao sono, meu sonho era sempre o mesmo: Brasil campeão.

Se o leitor espera encontrar aqui uma análise objetiva e equilibrada da fabulosa vitória da Seleção Brasileira, pode ir mudando de idéia – ou de página. O único tom adequado para uma coluna que pretende celebrar a conquista de uma Copa do Mundo é o dos mais rasgados sambas-exaltação. Portanto, recomendo ao amigo que, se possível, coloque na vitrola um daqueles velhos discos do Ary Barroso antes de continuar a leitura.

Foi uma vitória duplamente justa. Justa pelo que as duas seleções mostraram em campo e justa pelo que realizaram ao longo da história. Uma vitória que, alguns dirão, devolve ao nosso país a condição de dono do melhor futebol do mundo. Devolver o quê? – pergunto. Ora, desde 1950, quando Zizinho e companhia fizeram aquele inesquecível jogo contra a Espanha – na tarde das “touradas de Madri” –, que a única coisa que fizemos foi provar ao mundo que somos, sim, os mestres do jogo. Falam que depois de 1970 não fomos mais os mesmos. Bobagem indefensável! Nos roubaram a Copa de 78, encantamos o mundo com o maravilhoso grupo que disputou as copas de 82 e 86 e chegamos às finais das últimas três edições do torneio. Com o título de hoje, nada nos foi devolvido – apenas reconfirmado.

Na porta do estádio, pedi a diversos torcedores alemães que fizessem previsões sobre a grande final. “Alemanha 1 x 0”, se atreveram uns. “Com gol de ouro”, disseram outros. E não poucos afirmaram que a Copa seria decidida nos pênaltis. A mesma pergunta foi feita aos brasileiros. Três, quatro, cinco a zero – eram os placares mencionados. Os mais entusiasmados chegavam a descrever as belas jogadas dos gols. E eis aqui o meu ponto: até sonhando o brasileiro joga no ataque, para ganhar. Os alemães, mesmo no terreno do devaneio, onde limite é apenas o da própria imaginação, preferem jogar na retranca. Ao menos em termos futebolísticos, Alemanha só vem na frente do Brasil nos dicionários.

Seria um ultraje que os deuses do futebol concedessem a vitória a uma equipe que, além de depositar num goleiro suas esperanças de triunfo, passou a vida evitando o confronto com o Brasil. Os mesmos deuses, que castigaram a Hungria em 54 e a Holanda em 74 em favor dos próprios alemães, tiveram hoje a oportunidade de fazer justiça. Cheguei a duvidar deles, quando no primeiro tempo perdemos tantas chances. Mas eles acabaram trabalhando direito, Ronaldinho Carioca concluiu a travessia do herói – e agora é hora do país viver um verdadeiro domingo de carnaval.

Os craques brasileiros acabam de bordar, para sempre, a quinta estrela sobre o escudo da nossa formidável camisa amarela. Os campeões do Século XX, abrem o Século XXI insistindo em duas de suas mais antigas manias: jogar no ataque e erguer copas do mundo. Sei que não posso, pois isso é prerrogativa dos heróis do Penta – mas se eu pudesse dedicar esse título a alguém, eu dedicaria àqueles jogadores que tanto contribuíram para a construção da legenda do nosso futebol, mas que, por um capricho do destino, não sentiram o que estes jogadores estão sentindo agora, bem aqui na minha frente. Zizinho, Barbosa, Ademir de Menezes, Heleno, Zico, Falcão, Júnior, Sócrates: esta é uma singela homenagem de cronista – mas a Copa do Mundo vai para vocês. E para o danado do Felipão que provou que é mesmo um vencedor.

Quando a realidade nos concede a graça de – por um momento que seja – imitar os nossos sonhos, nos sentimos como se estivéssemos mais perto de Deus. A conquista do pentacampeonato foi um destes momentos de epifania. Mas ainda assim eu vou continuar sonhando com novas conquistas da Seleção Canarinho. Porque, nos meus sonhos, o Brasil é sempre campeão.

 

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