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Derrubar um Presidente da FIA é possível? A F1 já fez antes

A briga entre FIA e F1 motivam notícias de que os americanos querem a saída de Ben Sulayem. Isso já aconteceu antes...

2 fev 2023 - 17h10
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Amigos para sempre: Domenicali e Sulayem são a ponta mais visível de uma briga por poder
Amigos para sempre: Domenicali e Sulayem são a ponta mais visível de uma briga por poder
Foto: F1 Media / Divulgação

A briga a céu aberto entre a F1 (entenda-se Liberty Media) e a FIA (aqui o Presidente Mohammed Bem Sulayem) vem se desenrolando com uma trocação franca de golpes. Diante do quadro, começou a circular notícias de que a Liberty Media gostaria de que o dirigente fosse substituído.

Uma situação dessa não é inédita. A F1 já mexeu seus pauzinhos duas vezes para que isso acontecesse. E foi bem-sucedida em todas. Ben Sulayem está entrando em seu segundo ano de um mandato de 4 anos. E pelos estatutos da FIA, pode tentar mais 2 mandatos. Mas vamos recordar...

Pela via legal

Na década de 80, a briga entre FISA (então braço esportivo da FIA) e os construtores chegou ao ponto de ruptura total, o que levou inclusive a FOCA (Associação dos Construtores) a tentar estruturar um campeonato próprio em 1981 (O GP da África do Sul foi disputado, mas não contou para a F1), mas não foi à frente.

Um acordo entre todas as partes foi feito, abrangendo aspectos esportivos e financeiros, para acomodar todos os interesses. Esse foi batizado de Pacto de Concórdia e que, de certa forma, rege a F1 até os dias de hoje.

Jean Marie Balestre e Bernie Ecclestone. A briga de hoje ecoa a de quase 40 anos atrás
Jean Marie Balestre e Bernie Ecclestone. A briga de hoje ecoa a de quase 40 anos atrás
Foto: Twitter / Divulgação

Mesmo assim, as brigas entre Jean-Marie Balestre e Bernie Ecclestone eram frequentes. Sempre por poder e dinheiro. Bernie por diversas vezes convenceu o francês pela base monetária, além de vazar a famosa história de que Balestre foi um daqueles que ajudaram os alemães quando da invasão durante a Guerra.

Como a situação ia para uma situação cada vez mais tensa, começou um processo de derrubada de Balestre via eleitoral. Em 91, a FISA teria eleições. Balestre colocou-se como candidato para mais um mandato. Mas Ecclestone tirou do bolso Max Mosley, um dos fundadores da March e seu advogado de confiança (o Pacto de Concórdia foi redigido por ele).

O colegiado que vota para a FIA é extremamente diverso. Vai das associações desportivas nacionais reconhecidas até clubes de motorhomes de viagens. Embora a F1 seja uma das vitrines da entidade, apita nada neste processo.

Ecclestone conseguiu convencer alguns membros e lançou a candidatura de Mosley, aproveitando que Balestre também não era uma pessoa tão bem vista pela comunidade diante de suas posturas. Graças a uma bela politicagem e muito jogo de influência, Mosley foi eleito. Logo em seguida, Ecclestone assumiu um cargo na entidade e fez de um tudo para matar o Mundial de Esporte Protótipos (Grupo C).

Em 1993, FISA e FIA foram unificadas e Mosley assumiu o comando no lugar de Balestre.

Pela via do linchamento público

Max Mosley: de aliado de Ecclestone a pedra no sapato
Max Mosley: de aliado de Ecclestone a pedra no sapato
Foto: FIA / Divulgação

O mundo não gira, ele capota. Este é o dito do filósofo contemporâneo e que se aplica neste caso. Tempos depois, Mosley passa a ser a grande pedra no sapato da F1, principalmente ao ir contra o papel das montadoras na categoria.

Em 2004, chegou a haver um princípio de crise, com Mosley oferecendo sua renúncia, mas não sendo aceita. Porém, com a crise de 2008 que motivou uma revisão enorme de investimentos e a saída de marcas, Mosley achou que era o momento de impor sua visão à F1: controle de custos e novos times.

Isso foi um cataclismo entre os times e a F1, que se organizaram e ameaçaram deixar a categoria e criar uma outra categoria. Uma pressão enorme se fez sob Mosley e FIA iniciou um processo de escolha de novos times (que inédito, não?), prometendo que teriam um teto orçamentário de US$ 40 milhões e motor padrão.

Um acordo foi feito entre as partes, mas o destino de Mosley estava selado. E foi definido quando o tabloide News Of The World divulgou fotos de uma orgia de Mosley com prostitutas envolvendo sadomasoquismo e símbolos nazistas (o pai de Max, Oswald, foi líder do Partido Nazista Britânico nos anos 30). Esta foi a gota d’água.

Vários membros da FIA enviaram cartas solicitando a renúncia de Mosley pois não tinham mais confiança no seu comando. O britânico já havia posto seu cargo à disposição duas vezes, mas não foi aceita.

Inicialmente, Mosley anunciou em 2008 que renunciaria ao cargo no ano seguinte. Posteriormente, em abril de 2009 comunicou que não tentaria uma nova reeleição, já que a eleição seria em Outubro e sua imagem estava totalmente desgastada. Porém, apoiou Jean Todt como substituto, sendo o francês eleito.

Atualmente, Ben Sulayem está na metade de seu mandato de 4 anos. Os estatutos da FIA não tem uma previsão para um voto de desconfiança ou retirada de um presidente. Entretanto, o Artigo 19.11 do Estatuto da FIA prevê a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária específica convocada pelo Senado da FIA para substituir um Presidente que “tenha sido permanentemente prevenido de cumprir seu mandato ou renunciado”.

Artigo 19.11 do Estatuto da FIA que prevê uma substituição da Presidencia e como deve ser feito o processo...
Artigo 19.11 do Estatuto da FIA que prevê uma substituição da Presidencia e como deve ser feito o processo...
Foto: FIA / Estatuto da entidade (via site fia.com)

Esta Assembleia tem que ser convocada em um período de 2 a 4 meses a contar da declaração de renúncia ou afastamento. Neste meio tempo, o Presidente do Senado da FIA conduz a entidade, com a ajuda de Dois Vice-Presidentes. Então, a Assembleia elege um Presidente para cumprir o restante do mandato, até o final de 2024.

Aguardemos os próximos capítulos. O fato é que a campanha de desmoralização de Ben Sulayem na imprensa já está a pleno vapor. O emiradense vem sendo enxovalhado, especialmente na imprensa britânica, embora tenha se ajudado diante de algumas declarações diante de posicionamento de pilotos e ações da própria FIA.

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