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Rogério Ceni nega que tenha acompanhado Seleção para fazer média
Sexta-feira, 15 Março de 2002, 02h45

São Paulo - Aos 29 anos, maduro e experiente, Rogério Ceni é um dos destaques do São Paulo na temporada. Além de fazer milagres no gol, está se aperfeiçoando nas cobranças de faltas – já fez dois gols no ano – e é um dos comandantes da equipe dentro de campo.

“O Rogério chama a responsabilidade para si. Como goleiro, na minha opinião, é o melhor do Brasil”, diz o técnico Nelsinho Baptista.

Os elogios não são à toa. Ceni não se incomodou com os quatro anos que ficou na reserva de Zetti, superou conflitos internos (como no caso da suposta proposta do Arsenal) e segue com chances de ser convocado para disputar a Copa do Mundo pela Seleção Brasileira.

Mas Rogério Ceni não agrada a todos. Ele próprio reconhece que, às vezes, é um pouco chato. “Cobro muito de mim e quero que todos encarem as coisas da mesma forma como encaro”, diz.

Esse comportamento já lhe trouxe problemas e seria um dos motivos que levaram Luiz Felipe Scolari a demorar tanto tempo para convocá-lo. Ele não concorda.

“Nunca tive problemas com ele como ficam especulando”, afirma.

Nesta entrevista, Rogério Ceni fala do bom momento do São Paulo, do desejo de voltar à Libertadores, de morar na Europa e da expectativa pela convocação da Seleção Brasileira, no dia 21.

Você está prestes a completar 400 jogos pelo São Paulo. O que representa essa marca?

Rogério: É uma vitória pessoal. São poucos atletas hoje que têm uma identificação com o clube e conseguem chegar a uma marca como essa. É um espaço da história do clube que você ocupa e isso tem uma valia muito grande. Principalmente, por chegar a esse número com o time jogando dessa forma e num momento bom. Isso é legal.

Até onde esse time pode chegar se mantiver esse desempenho?

R: Acho que tem tudo para chegar entre os quatro no Rio-SP e, com certeza, vai chegar mais adiante na Copa do Brasil. Agora, o que separa você de conquistar um título ou não é uma coisa muito pequena, que, às vezes, até foge do alcance da gente.

O objetivo do São Paulo tem quer ser a volta para a Libertadores?

R: Acho que sim. Todos ainda vivem aquela época de 92, 93 e 94 e isso é importante para a memória do torcedor. Seria importante para a gente voltar a crescer, para o torcedor voltar a ter aquela paixão, sentir aquela emoção. A Libertadores continua sendo uma obsessão.

Você ainda sonha em jogar na Europa?

R: Não é uma obsessão. É lógico que se aparecesse a oportunidade de jogar lá fora seria uma coisa legal. Não vou ficar triste se não conseguir realizar isso, não é um sonho. Eu gostaria de morar fora do país depois de encerrar minha carreira como profissional, mas ainda não decidi o que fazer.

Você acha que aquele episódio com o Arsenal está superado?

R: Acho que sim. Foi um momento delicado, um momento muito difícil, mas acho que você precisa superar essas coisas.

Como está sua expectativa para a convocação da Seleção para o jogo contra a Iugoslávia?

R: Eu espero poder ter minha oportunidade de novo. Estive lá, mas não tive oportunidade de treinar. Eu gostaria de estar presente, mas aguardo com naturalidade. Se tiver minha oportunidade vou ficar muito contente.

Você acha que ganhou alguns pontos com a comissão técnica por ter ido para Cuiabá sem ter condições de jogar?

R: Eu não fui para ganhar pontos. Eu fui com a intenção, a esperança de poder me recuperar e ficar. Eu não sabia a gravidade da lesão. A minha vontade de ficar lá era grande.

Como foi seu primeiro contato com o Felipão?

R: Nas poucas vezes que encontrei o Felipão ele foi muito receptivo comigo, muito educado, muito correto e eu também com ele. Nunca tive problemas com ele como ficam especulando. Eu fui bem recebido, o Felipão é um cara muito simples, bacana, correto e objetivo. Acabei conversando pouco tempo com ele, mas foi uma coisa que gostei. O modo como ele conduz as coisas me agrada.

Você acha que esses goleiros que estão sendo convocados são os melhores do país?

R: Acho que o Helton é um goleiro muito bom tecnicamente e também poderia estar entre os convocados.

Você acha que dá para ser sincero no futebol? R: Às vezes, você precisa guardar a sinceridade para você. Muitas vezes sua opinião é até distorcida pela própria pessoa que o entrevista. Mas tem assuntos que você pode ser sincero. Tem assunto que é melhor você se resguardar e não opinar. Isso você aprende com o passar do tempo.

Você acha que passa uma imagem antipática para as pessoas? R: Posso até passar. Às vezes, você pode ser politicamente correto que você vai agradar às pessoas de fora. Mas, às vezes, você tem que ser realista e analisar a situação que acontece dentro de campo. Eu vivo de resultado, de vitória, de ganhar. O valor aqui, não só meu como de cada um, é quando você conquista um título, quando você vive uma fase boa, quando vence jogos consecutivos. Então, se às vezes eu tiver que falar alguma coisa mais áspera, se tiver que discutir para o bem da minha equipe, não tenha dúvida de que vou discutir, vou falar, vou brigar. Depois a gente se acerta fora de campo. Mas você tem que aprender a conviver com as limitações de cada um.

Você se sente mais realizado quando marca um gol de falta ou quando faz uma defesa milagrosa?

R: Eu me sinto realizado quando entro em campo para jogar. Mas quando você faz um gol é uma sensação diferente, um sentimento gostoso, que traz alegria. Cada gol da minha vida tem sido mais especial ainda.

Como você está vendo a situação atual da cidade de São Paulo no que diz respeito à segurança?

R: Terrível. Eu vivo aqui única e exclusivamente pela necessidade de trabalho. São Paulo é uma cidade que não transmite confiança nenhuma para morar. Deixar uma cidade dessas chegar no estado que está é uma coisa lamentável. Agora, parece que deram uma liberdade melhor para a polícia atuar. Mesmo assim, tem muita gente que tem de pensar de uma forma diferente. Direitos humanos é uma coisa legal, extremamente importante, mas a lei tem que ser repensada para essas coisas.

Você é a favor da pena de morte? R: É uma coisa muito pesada de se falar. É uma coisa que você tem que deixar a sinceridade falar dentro de você.

Você já sabe em quem vai votar para Presidente?

R: Não, porque não tem um candidato em quem eu confie. A cada dia aparecem notícias novas, coisas que você não espera de um candidato.

L! Sportpress

 

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