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Deprimido, Luxemburgo fala em abandonar a bola
Quinta-feira, 23 Novembro de 2000, 00h58

Rio - O ex-técnico da seleção brasileira está deprimido. Mais do que isso, destruído. Ele repete o adjetivo com o olhar fixo num ponto vago e acusa a imprensa de tê-lo lançado num "caldeirão". "Destruíram a minha vida em três meses", ele diz. Wanderley Luxemburgo busca agora forças para enfrentar uma longa temporada em escritórios de advocacia e tribunais. E passa a maior parte do tempo se dedicando à família: as três filhas e a mulher. "Todas choram, minha esposa está doente; elas sabem que sou inocente e sofrem comigo."

Luxemburgo não está blefando ao afirmar sua disposição de abandonar o esporte. Quer antes provar que todas as acusações contra ele são infundadas. Há, porém, uma exceção. Reconhece problemas com a Receita Federal e se dispõe a resolvê-los. "O que fizeram comigo foi uma indecência; não há nenhuma prova que me incrimine."

Desde que surgiram as primeiras denúncias envolvendo seu nome com venda e compra de passes de jogadores, falsificação de documentos e até mesmo tráfico de drogas, Luxemburgo viveu momentos de extrema aflição. Temeu pela integridade das filhas e pela exposição de sua carreira vitoriosa, construída ao longo de 17 anos como treinador de futebol.

Na Austrália, longe da língua ferina de sua ex-secretária Renata Alves, autora da maioria das denúncias, Luxemburgo tentou esquecer os distúrbios no Brasil para levar a seleção à medalha olímpica. Teve percalços. Sentiu-se tripudiado, desrespeitado por parte da imprensa. "Eu fui humilhado em entrevistas coletivas, em que precisava manter a postura de técnico da seleção."

Um dos momentos que o marcaram na Austrália aconteceu logo após a estréia do Brasil no torneio de futebol, em que derrotou a Eslováquia por 2 a 1. Na entrevista, no Estádio The Gabba, em Brisbane, um jornalista quis saber por que ele trocara pela primeira vez o terno pelo uniforme da Nike no comando da equipe. Considerou a pergunta tola e, quando da insistência de outro repórter sobre o mesmo tema, reagiu com desdém, ainda que mantendo aparente tranqüilidade. "Aquilo foi um acinte, uma tentativa de me humilhar, de me agredir; jamais vou esquecer o episódio."

Em uma hora e meia de conversa, num restaurante da zona sul do Rio e, depois, a caminho do Aeroporto Santos Dumont, Luxemburgo manteve contato cinco vezes com as filhas e sua mulher. Demonstrava preocupação em perder o último vôo da Ponte Aérea, na noite de terça-feira. "Não posso deixar só a pessoa que amo; que tanto sofre com a minha dor, sabedora de quem sou e de tudo que já fiz", comenta.

Defende sua mulher, Jô, até mesmo quando o lembram do gesto com uma das mãos com que ela reagiu ao cerco de jornalistas no momento em que Luxemburgo chegava ao Aeroporto de Cumbica, de volta da Austrália. "Sabe por que ela fez aquilo?", indaga, com os olhos agora avermelhados, indício de que fala com o coração. "Ela reagia à provocação de um cinegrafista, que a ofendia com palavrões; isso ninguém escreveu."

Luxemburgo também negou que houvesse sido alvo de uma tentativa de agressão, ainda em Cumbica, por parte de torcedores. E dá a sua versão para o que ocorreu. "Um repórter, com um celular, dizia em voz alta: `Não agrida o Wanderley, não agrida o Wanderley'; ele insuflava os outros; sei quem é, foi uma canalhice."

Na rua, no Rio ou em São Paulo, o treinador garante que vem recebendo a solidariedade da população. De qualquer forma, tem evitado os lugares públicos, de aglomeração. "As pessoas me tratam com carinho e algumas dizem que não entendem como um homem pode ser linchado da forma como fui sem nenhuma prova."

Jogos de futebol, nem pela tevê. Longe de tudo e tão perto das bancas de jornais que estampam seu nome em capas de revistas e jornais, com acusações, "uma tortura contínua", Luxemburgo recorre a poucos amigos para suportar o pior momento de sua vida. Um deles, o advogado Michel Assef, com quem pode ser visto entrando e saindo do fórum do Rio, pelo menos uma vez por semana. Outro é o assessor de Imprensa de Ronaldo, Rodrigo Paiva, que tem emprestado algum tempo ao técnico, numa tentativa de livrá-lo de novas humilhações. "Estou propondo uma reflexão à imprensa e a todos que lidam com futebol", prossegue Luxemburgo, mãos trêmulas, que põem em risco o copo de refrigerante. "Em três meses eu virei o maior bandido da história do futebol brasileiro, o que é isso?"

A acusação mais subjetiva dá conta de que Luxemburgo peca pela arrogância. Ele então volta à infância humilde, em Tinguá, um bairro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para assegurar que conseguiu progredir com suor e competência. "Ninguém sai de Tinguá, com todo o respeito que o local merece, para ser treinador da seleção impunemente." O jeito de falar e até mesmo uma certa dose de agressividade no trato com jornalistas e alguns jogadores são rechaçados por ele. "Só quem já tomou uísque ou vinho comigo, quem já desfrutou de um churrasco em minha casa é que pode dizer se sou arrogante ou não."

A força para manter o equilíbrio diante das acusações vem da família e também de um aspecto que Luxemburgo gosta de ressaltar. "Tenho dignidade e isso não se compra numa farmácia, como remédio; você nasce e morre com dignidade." Os erros de um passado longínquo são reconhecidos. Admite por exemplo que já passou cheque sem fundo quando vivia uma situação financeira bastante difícil, no ínicio dos anos 80. "Isso eu assumo, nunca neguei."

No entanto, o que deixa o treinador mais transtornado é a acusação de que mexia com drogas e a de que estaria por trás de uma emboscada contra Renata Alves. "O técnico da seleção ser um assassino, traficante de cocaína; isso é demais, passou dos limites e a imprensa não acordou para isso."

O primeiro objetivo é provar sua inocência, o que pode demorar alguns meses ou até anos, levando-se em conta a morosidade da Justiça. Depois, Luxemburgo vai definir o que fazer. Se tivesse de decidir hoje, não hesitaria. Estaria fora definitivamente do futebol. "Não quero que minha família seja exposta novamente a tudo isso; aos deboches, piadinhas, a essa situação de humilhação."

Itália - Após todo esse tormento jurídico, Luxemburgo deve seguir para o futebol italiano. Embora ele nem queira falar do assunto, até porque está mesmo disposto a não se envolver agora com futebol, amigos do treinador ligados à Inter de Milão já estão articulando sua ida para o clube.

O atacante Ronaldo teria esse interesse, ainda que não o manifeste publicamente. O meia Vampeta também seria favorável à transferência do técnico para a Itália. Luxemburgo já soube da iniciativa dos amigos, mas nega-se a fazer comentários. O ex-técnico da Inter, Marcelo Lippi, deixou uma ótima impressão de Luxemburgo na direção do clube, quando dirigia a Inter. O ex-treinador da seleção brasileira visitou mais de uma vez as dependências da Inter, foi apresentado a diretores do clube, com quem fez amizades, e sabe que essa possibilidade não pode ser descartada.

Se voltar atrás na intenção de deixar o futebol, Luxemburgo deve trabalhar mesmo no exterior e a Itália estaria em primeiro plano, até porque um de seus melhores amigos trabalha lá, Rodrigo Paiva, o assessor de Ronaldo.

O Estado de S.Paulo


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