Após compra pela Omie, banco Linker reforça estratégia 'beyond banking'
Fintech acredita que unir banking e serviços de gestão é essencial para o sucesso e a sobrevivência das empresas
Já faz quase um ano da aquisição do banco digital Linker pela Omie. Desde então, a fintech tem unido suas expertises com as da plataforma de gestão (ERP) na nuvem para expandir seu portfólio de produtos, agregar mais valor aos clientes e aumentar a competitividade no mercado. Criado em 2019 por David Mourão, Ingrid Barth e Daniel Benevides, o Linker soma mais de 100 pessoas no time e 45 mil clientes PJ, e busca ajudar empresas a terem sucesso com mais agilidade e menos burocracia no dia a dia.
O foco inicial da fintech foi resolver a dor financeira de abrir a conta bancária e transacionar com ela. Mas no último ano, adicionou a parte de gestão à estratégia de negócio. "Começamos a trabalhar com ferramentas que trouxessem a parte de administração financeira, contabilidade e ERPs. Nesse processo, a visão entre Linker e Omie se encaixou de forma muito natural", afirma Daniel, em entrevista ao Startups.
A transação de R$ 120 milhões foi anunciada em novembro de 2021. Na época, a Omie anunciou os planos de ampliar sua oferta de serviços financeiros, com opções de conta digital, cartão de crédito e gestão de cobrança. Do outro lado, o Linker aproveitou para colher novos conhecimentos de gestão. "Estar junto com a Omie acelerou muito o nosso entendimento sobre isso, aproximando a inteligência deles ao nosso negócio", diz Daniel.
Segundo o executivo, a autonomia foi um dos pontos cruciais na hora de tomar a decisão de fechar ou não a aquisição. "A Omie nos deixou completamente à vontade para seguir na avenida de crescimento do banco e oferecer uma proposta de solução financeira atrelada ao conhecimento de gestão da Omie. Hoje as empresas alinham horizontes, mas conseguimos caminhar com bastante velocidade com os objetivos do banking com o Linker", pontua.
Com foco no 'beyond banking'
De acordo com Daniel, embora os bancos digitais tenham alto crescimento, muitos têm dificuldade de gerar receita recorrente. E com a aquisição vieram novas oportunidades nesse sentido. "Conseguimos adquirir a experiência da Omie para gerar receita em termos de software as a service, mantendo uma estratégia de crescimento de banco digital", afirma.
Recentemente, a fintech lançou um serviço de Consultor de Mídia Digital, em parceria com a Pareto, com o objetivo de acelerar as vendas através de um software de automação para campanhas de Google e Facebook Ads com inteligência artificial. O recurso faz parte do plano de assinatura Ultra. O pacote inclui também um Consultor de Negócios, em parceria com a Triven, com o intuito de otimizar a gestão financeira; além de um cashback de 0,5% nos gastos do cartão digital e um Gerente de contas com atendimento personalizado para tirar dúvidas e ajudar o cliente no uso dos serviços.
"Desde o início tínhamos a visão de que um modelo em que tudo é gratuito não se sustenta com o tempo, e começamos a desenvolver a estratégia de cobrar por algumas funções, desenhando um modelo de negócios baseado em assinaturas", explica Daniel. Hoje, o Linker oferece 4 planos pensados para as diferentes etapas de crescimento dos clientes.
Esses movimentos reforçam a união entre o banking e os serviços de gestão - uma tendência conhecida como 'beyond banking' (ou além do banking). Outros playes já notaram o potencial desse mercado. O Itaú Unibanco e a Totvs criaram uma joint-venture com foco na distribuição de serviços financeiros integrados aos sistemas de gestão empresarial da Totvs. Em 2020, a Stone adquiriu a Linx, empresa brasileira de software de gestão para o varejo. E há alguns meses o Bradesco fechou uma parceria com a SAP Brasil para desenvolver uma plataforma que integre os serviços do banco à solução da companhia de software de gestão para PMEs.
O diretor do Linker enxerga a combinação entre ERP e banking como essencial para o sucesso e a sobrevivência das empresas. "Muito se fala no Brasil sobre a taxa de mortalidade dos negócios, mas ela é parecida com a dos Estados Unidos O problema é que as empresas que sobrevivem por aqui não têm um crescimento exponencial", diz Daniel. Segundo o executivo, uma das razões para isso é a gestão. "É necessário aliar a ela um transacional descomplicado e desburocratizado para destravar o crescimento das companhias. Os bancos PJ precisam ir além do transacional e entregar inteligência de gestão", acrescenta.
Projeções de crescimento
Daniel afirma que, como parte do grupo Omie, o Linker tem caixa suficiente para "rodar tranquilamente" nos próximos anos. "O foco agora está em encontrar oportunidades para aumentar a receita, e não necessariamente reduzir os custos", afirma. No último ano, a fintech mais que dobrou a base, chegando aos atuais 45 mil clientes. Para 2023, a meta é repetir a conquista e triplicar a receita graças aos novos produtos.
"O mercado de soluções para pequenas empresas ainda é muito jovem, e existe um mar enorme para se resolver problemas, principalmente em termos de diversidade de oferta", diz o executivo. Ele ressalta que o setor ainda é bastante concentrado nas mãos dos grandes bancos, e é justamente neles que está a principal concorrência do Linker. "As fintechs que nascem para desafiar os tradicionais ainda não se enxergam como concorrentes, mas como compartilhadores de um mesmo desafio. A concorrência ainda é com os grandes bancos para convencer os empreendedores de que temos a solução que melhor se encaixa em sua necessidade."
Nesse sentido, o empreendedor observa 2 diferenciais. O primeiro é a desburocratização: o Linker consegue abrir novas contas em algumas horas dependendo da natureza jurídica das empresas - ou, no máximo, 2 dias. Outro ponto é o modelo beyond banking. "A proposta é que com o Linker o empreendedor consiga gerar inteligência e informações financeiras para tomar as decisões de gestão da empresa atrelada à conta bancária", conclui.