As duras críticas contra o Brasil e os especuladores do principal sócio do Mercosul por atentar contra a estabilidade do peso, feitas ontem pelo ministro da Economia argentino Domingo Cavallo, foram comentadas este sábado pela imprensa argentina e brasileira. O presidente Fernando de la Rúa, preocupado com a repercussão dos comentários, deixou claro que as opiniões do ministro não haviam visado o governo brasileiro, mas o setor privado. O ministro voltou atrás, desculpou-se e sublinhou as palavras de De La Rúa.O jornal La Nación assinalou que o chanceler brasileiro Celso Lafer expressou que "seu Governo sentiu-se 'aborrecido' por causa de algumas declarações de Cavallo, que ontem pediu desculpas por suas acusações". Em outra matéria, sob o título "O ministro contra todos", o jornal faz uma síntese dos vários 'dardos lançados por Cavallo', dirigidos ao Brasil, ao ex-presidente Carlos Menem, ao ex-ministro da Economia, Roque Fernández e ao presidente do Banco Central, Pedro Pou.
O matutino Crónica (popular) destacou na manchete em sua primeira página: "Cavallo à la Cavallo". "Pela manhã, atacou com tudo o Brasil por especular com uma desvalorização na Argentina. À noite, pediu desculpas". Em outra manchete, o jornal enfatizou que "Cavallo quase provoca um 'terremoto' com o Brasil". "Depois, quando começou a sofrer as pressões políticas da Casa Rosa (sede do Governo) teve de voltar atrás", escreveu o jornal.
Por sua vez, o Clarín (o de maior vendagem) ressaltou que Cavallo "teve ontem um dia de declarações para todos os gostos", durante o que "enérgico e nervoso (...) disparou contra os especuladores do poderoso Estado de São Paulo".
À noite, "irrompeu em uma coletiva de imprensa e esclareceu que se referia aos especuladores brasileiros e não ao Governo desse país que, 'ao contrário, muito nos ajudou'".
As declarações também foram destaque nos jornais nacionais. O jornal O Globo classifica Cavallo de intempestivo, excessivamente passional e assegura que faz suas declarações sem consultar seus colaboradores. Ainda segundo o jornal, Cavallo assegurou que jamais se referiu ao Governo brasileiro e sim "a alguns operadores de São Paulo".
Para o jornal Estado de São Paulo, Cavallo ofereceu "um novo show e distribuiu críticas desordenadas". E, de acordo com o Jornal do Brasil, "o ataque de Cavallo aos inimigos da convertibilidade recorda o fundamentalismo das autoridades econômicas brasileiras um pouco antes da desvalorização do real em 1999".
Um porta-voz do ministério da Economia brasileiro confirmou à AFP que ambos ministros conversaram por telefone e que Cavallo garantiu a Malan que suas declarações foram mal interpretadas e que jamais acusou o Governo brasileiro de prejudicar o regime de convertibilidade argentino.