A Argentina sempre teve grande interesse pelo mercado norte-americano, o que pode explicar, na opinião de fontes do governo brasilerio, a reação positiva do país vizinho à proposta do Chile de antecipar a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O que não está claro para o Brasil é qual será o ganho da Argentina, se esse país resolver trocar o Mercosul pela Alca ou por um acordo bilateral com os Estados Unidos, a exemplo do Chile, já que seus produtos manufaturados encontram problemas para concorrer até no meracdo brasileiro e sua produção agrícola compete com a produção da América do Norte.
A proposta de antecipar o início da redução tarifária da Alca de 2005 para 2003 foi feita por diplomatas chilenos nesta segunda-feira, em Washington, durante a reunião preparatória da Cúpula das Américas, marcada para abril, em Quebec.
De acordo com fontes da área econômica do governo, o Brasil não acredita, porém, que o fato de a Argentina concordar com uma possível antecipação no cronograma da Alca fará o país defender essa antecipação dentro do bloco, a ponto de levar a uma ruptura com os países sócios.
"A Alca é apenas uma área de livre comércio, e o Mercousl é muito mais que isso, é uma união aduaneira e política, portanto os dois podem conviver perfeitamente", disse uma fonte do governo.
O Brasil absorve 30% das exportações da Argentina, enquanto os Estados Unidos importam da Argentina cerca de 10% das exportações desse país. Os Argentinos têm problemas de competitividade que geraram vários conflitos comerciais dentro do Mercosul recentemente, por causa da competição com os produtos brasileiros.
Foi o caso dos calçados e dos têxteis no ano passado e do aço e do frango neste ano. No caso das exportações agrícolas, muitos grãos em que a Argentina é competitiva, os Estados Unidos e o Canadá também são, como no caso do trigo, por exemplo, cuja produção argentina o Brasil absorve. "Há muito mais complementação comercial na relação da Argentina com o Brasil", avaliou um diplomata.
Alguns analistas especulam, porém, que a Argentina poderia ter interesse em tornar-se um pólo de investimento de empresas norte-americanas. Neste caso, as empresas se instalariam na Argentina, importariam produtos com tarifa zero, produziriam com mão de obra mais barata e reexportariam a produção para os Estados Unidos ou mesmo pra o Brasil.