As distribuidoras de combustíveis vão registrar queda de 5% nas vendas para os revendedores este ano, por conta do aumento do preço dos combustíveis e pela adulteração praticada em alguns postos, disse o presidente do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) nesta terça-feira. "Geralmente o consumo de gasolina segue o PIB (Produto Interno Bruto), mas esse ano será atípico, vamos vender menos que o crescimento da economia, não só pela queda de consumo como pela adulteração", disse a jornalistas João Pedro Gouveia Vieira, presidente do Sindicom e diretor da Distribuidora Ipiranga. Ele disse que estima um crescimento de 3,5% para o PIB este ano.
O faturamento das empresas, entretanto, subirá para 60 bilhões de reais este ano, contra R$ 45 bilhões de 1999, também por causa do aumento do preço dos combustíveis, da ordem de 30%, "o que compensou a queda do volume vendido", observa Vieira.
Pelas projeções do Sindicom, a venda de gasolina pelas distribuidoras aos postos vai fechar o ano em queda de 7%; a venda de álcool em menos 29% e de óleo diesel em queda de 1%.
Além da retração do consumo, Vieira aponta a adulteração de combustíveis como o segundo fator para a queda de vendas, já que, com a adição de solventes, a necessidade de combustíveis como gasolina e álcool é menor.
"Apenas os produtos vendidos para o setor de aviação vão registrar alta este ano, porque além do setor ter crescido, não é possível adulterar o combustível senão o avião cai", disse.
O Sindicom fecha o ano de 2000 com as mesmas reclamações que marcaram a entidade desde a abertura do mercado, em 1995, quando centenas de novas distribuidoras passaram a operar no país.
Em um mercado que era dominado por cerca de dez empresas, atualmente existem 210 distribuidoras, e cerca de 26 mil postos revendedores.
Vieira disse que nos próximos anos deverá ocorrer um enxugamento no número de distribuidoras, seguindo uma tendência mundial, e estima que para atender o mercado brasileiro sejam suficientes apenas 60 empresas.
A expectativa do executivo é de que além de fusões entre as distribuidoras de pequeno porte, muitas deixem de operar no mercado devido a sucessivas infrações que cometem, como, por exemplo, a sonegação de impostos e a adulteração de combustíveis.
O Sindicom estima que o governo brasileiro perderá este ano R$ 1,6 bilhão em arrecadação de impostos devido à sonegação de distribuidoras de combustíveis.
Antiga briga do setor, a sonegação ganhou nos últimos dois anos a companhia da adulteração de combustíveis entre as bandeiras levantadas pelas distribuidoras e que ainda não foram solucionadas.
"Agora temos alguns aliados, como a Agência Nacional do Petróleo (ANP), os Procons (Proteção ao Consumidor), e até a Anfavea, que está tendo muitas reclamações de automóveis com defeito por causa dos combustíveis adulterados", disse Vieira.
Sobre a sonegação fiscal, o Sindicom vai propor ao governo brasileiro a cobrança de imposto único sobre a produção ou importação de gasolina e diesel e uma alíquota uniforme por produto em todo o país.
Para o álcool, a idéia é propor a redução de 18 para 12% na contribuição tributária.
"Seria uma maneira de ampliar a base para manter a arrecadação", disse o especialista em tributação da Shell, Carlos Adolfo, também presente ao evento.
Ele informou que os problemas tributários e de adulteração de combustíveis reduziram a lucratividade da Shell do Brasil, o que levou a empresa a traçar como meta a redução do número de postos de 3,5 mil para 2,5 mil entre 2000 e 2001.