A Ultragaz, subsidiária integral do Grupo Ultra, começou hoje uma ofensiva para não deixar que o gás natural devore fatias do mercado residencial abastecido com Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) e para que o insumo passe a ser visto como uma alternativa energética para além do fogão, substituindo a energia elétrica. "Qualquer companhia de gás natural vai querer conquistar fatias do nosso mercado", admitiu o gerente de Tecnologia e Aplicações da Ultragaz, Wagner Daraia.A fatia da Ultragaz, de 100 mil t/mês ou 1,320 milhão t/ano de gás, rendeu R$ 907 milhões, no ano passado. Segundo estima Daraia, em 2000 o crescimento em volume de vendas será de 4%, previsão anual mantida para o próximos triênio.
A estratégia da Ultragaz para não perder mercado e, ao mesmo tempo conquistar novos nichos prevê três iniciativas: projetar a instalação de gás canalizado em casas e prédios de apartamentos desde o desenho da planta.; atrair cerca de 500 pessoas por mês ao espaço real "Viver com Ultragaz", em sua sede paulistana, onde são mostrados os usos do gás para além do fogão e do chuveiro; e divulgar o espaço pela Internet, no site (www.ultragaz.com.br).
Os seis ambientes da casa mostram tradicionais e novos usos do gás como matriz energética em susbstituição à eletricidade, cuja economia gerada pode chegar a 40%, afirma o gerente da Ultragaz. Wagner Daraia também calcula que os pequenos consumidores (residenciais) paguem entre 15% e 30% mais pelo gás natural em comparação com o GLP.
A explicação para isso, é que o melhor custo-benefício do gás natural, cotado pelo dólar e cobrado do consumidor também com base na moeda americana, se dá pelo uso em grandes quantidades. Enquanto o GLP, embora cotado pelo dólar e ainda pela variação do barril de petróleo (que chegou a US$ 35, este ano), faz parte de uma cesta de derivados do óleo cru, onde o preço dos produtos essenciais pode ser subsidiado pelo custo de itens considerados supérfluos, como a gasolina em relação ao gás de cozinha.
"O gás natural fica mais barato à medida que o consumo aumenta. Porém, mesmo que um condomínio tenha muitos apartamentos, o gasto sempre será contado como individual", compara o gerente da Ultragaz. A preocupação da Ultragaz em manter sua fatia de 18,4% de participação no mercado brasileiro de 6,817 milhões t/ano de GLP (92% residencial e 8% industrial e comercial) faz com que a empresa passe a desenvolver a instalação de gás na planta original do que virá a ser um condomínio de apartamentos ou uma casa.
Segundo a legislação do município de São Paulo, desde o ano passado, os prédios residenciais e comerciais são obrigados a substituir o gás em botijão pelo distribuído via canalização. Não há obrigatoriedade de uso de um gás ou outro, o que interessa é a embalagem do produto. Hoje, 90% da população brasileira usa o GLP como combustivel doméstico, embalado em 80 milhões de botijões - desses, 16 milhões são da Ultragaz, que os distribuídos por frota própria de 1.300 caminhões em todo o País.
Wagner Daraia argumenta que o GLP não precisa ser entregue ao usuário doméstico dentro de botijões. Para um condomínio, por exemplo, o projeto arquitetônico prevê tanques de armazenamento de gás na base do prédio (subsolo) ou em áreas isoladas, de onde saem os dutos que levam o produto a cada unidade.
Os tanques são abastecidos a granel por caminhões-tanque (tipo aqueles que levam a gasolina, o diesel e o álcool aos postos de combustíveis). O perigo de vazamento e explosão, diz ele, existe como em qualquer outro caso. "A canalização do gás natural que atravessa países, estados e cidades inteiras também pode representar perigo, caso um duto seja danificado", argumentou.