O protecionismo dos países desenvolvidos é um dos principais obstáculos para a inserção das economias em desenvolvimento no comércio internacional. Essa é a conclusão do relatório "Perspectivas Econômicas Globais e os Países em Desenvolvimento", divulgado hoje (05) pelo Banco Mundial.Segundo o estudo, além de lutar contra a falta de estrutura para a exportação, os países em desenvolvimento ainda enfrentam barreiras comerciais que podem inviabilizar suas vendas para os principais mercados do mundo.
"Muitos países não têm se beneficiado da abertura da economia devido a problemas internos, mas também em razão do impacto severo do protecionismo", afirma Uri Dadush, diretor do Grupo de Política Econômica do Banco Mundial. Essa é a primeira vez que a instituição ataca explicitamente o protecionismo como um obstáculo ao crescimento dos países em desenvolvimento.
Os países desenvolvidos argumentam que suas alíquotas de importação são baixas. De fato, a média tarifária dessas economias está entre 4,3% e 8,3%, enquanto no Brasil as taxas são de 13%. Os norte-americanos ainda tentam demonstrar que seu mercado é aberto ao ressaltar que apenas 311 produtos, de um total de 5 mil, são taxados acima de 15%.
O problema, segundo o Banco Mundial, é que as tarifas mais elevadas recaem justamente sobre os produtos exportados pelos países menos desenvolvidos.
De acordo com o relatório, carnes, açúcar, leite e chocolate recebem tarifas de mais de 100% para entrar na União Européia (UE), Canadá, Japão e Estados Unidos. 180% é a taxa cobrada para que a banana possa ser comercializada no mercado europeu, enquanto algumas nozes chegam a receber tarifas de até 500% no Japão e nos Estados Unidos.
As indústrias de alimentos, têxteis e calçados também sofrem com o protecionismo, segundo o Banco Mundial. "Isso compromete seriamente a competitividade dos nossos produtos no mercados centrais" afirmou um diplomata brasileiro ao comentar o relatório.
O relatório ainda acusa os subsídios dos países desenvolvidos de gerar uma distorção do mercado agrícola no mundo. "Trata-se de um apoio a produtores ineficientes", afirma o Banco.
Enquanto os preços das commoditties continuam em declínio, os subsídios aumentam. Em 1999, ainda que a Organização Mundial do Comércio tenha condenado o uso de apoio governamental, o volume de subsídios foi maior que em 1986. Somente na UE, os subsídios corresponderam a 60% do comércio mundial de produtos agrícolas.
Mesmo com todos esses entraves, o Banco Mundial acredita que comércio deverá crescer 12,5% em 2000. Se confirmado, esse será o melhor desempenho desde crise do petróleo nos anos 70.
Para os técnicos da instituição, o aumento do fluxo de mercadorias ocorreu nos países em desenvolvimento que aprofundaram a liberalização da economia e promoveram política macroeconômicas que geraram estabilidade. "Nos países onde a abertura foi maior, as exportações também foram as que mais cresceram, principalmente na América Latina e Sudeste Asiático" afirma um assessor do Banco.
Por Jamil Chade, especial para a AE