O embaixador do Chile no Brasil, Carlos Eduardo Mena, não acredita que o acordo comercial que seu país começou a negociar com os Estados Unidos (EUA) na semana passada possa contribuir para acelerar a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Mas admitiu que para o Chile não faria diferença se a Alca passasse a existir a partir de agora. "A Alca tem um calendário definido e mais dia menos dias ela vai acontecer", disse. "O fato de o Chile ter um acordo com os Estados Unidos não muda nada, porque estávamos tentando negociar com os americanos há dez anos."O acordo comercial que os EUA assinaram com a Jordânia e com Cingapura há duas semanas, segundo Mena, acelerou os entendimentos entre o Chile e o governo americano. De acordo com o embaixador, havia um compromisso dos EUA de que o próximo país depois do Canadá e do México, com o qual seria iniciado um processo de associação comercial seria o Chile. Como os EUA passaram os países do oriente na frente do Chile, o país latino-americano reivindicou seu lugar na fila. Na explicação do embaixador, o Brasil foi informado do acordo pelos EUA e não pelo Chile por uma questão de incompatibilidade de tempo e não por "má-fé".
Na opinião do embaixador, a associação Chile-EUA poderá ser um teste para a Alca. "Os países da região poderão ver como serão as negociações e o tipo de acesso que teremos", disse. Segundo Mena, ainda não foram definidos os detalhes do acordo. "Não sabemos qual será o nível de redução de tarifas". Mas o embaixador contou que, na quarta-feira da semana passada, foi acertado em Washington que o acordo seguiria as mesmas regras que a associação comercial assinada entre Chile e Canadá com relação a cláusulas ambientais e trabalhistas. "O acordo entre Chile e Canadá não permite que essas cláusulas gerem barreiras ao comércio", disse.
Para Mena, o relacionamento comercial entre Chile e EUA não impede que o Chile faça parte do Mercosul quando o bloco reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC), maior do que a do Chile. "Sempre deixamos claro que, enquanto o Mercosul tivesse tarifas externa mais alta que a nossa, materíamos a autonomia comercial", afirmou. "Quando Mercosul e Chile tiverem a mesma tarifa, vamos aderir ao Mercosul e abrir mão da autonomia comercial."
Mena disse que o Chile não pode esperar o tempo do Brasil para reduzir tarifas. "São países totalmente diferentes. Enquanto 50% da economia do Chile depende das exportações, o Brasil é um país onde 100 milhões de pessoas participam do mercado, ou seja, tem um enorme mercado interno", comparou. "Os países precisam se preparar para a Alca, mas isso se faz diminuindo tarifas, para aumentar a produção e a competitividade das empresas."
De acordo com o embaixador, a negociação com os EUA não impede que o Chile se una ao Mercosul em negociações ou para enfrentar a competição internacional. "A competição internacional não é só a das empresas, mas sobre sistemas políticos, de educação, tecnologia, sobre cláusulas trabalhistas e meio ambiente", disse. "Não entendo porque tendo um acordo comercial com os Estados Unidos, o Chile não possa se unir ao Mercosul para exportar determinado produto ou investir conjuntamente e desenvolver tecnologias que melhorem a produção", disse. "Esse conceito de que integração regional é só comércio é muito antigo, muito mercantilista."