O ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, não acredita numa desaceleração mais brusca da economia dos Estados Unidos, conhecida como "hard landing", o que poderia reduzir o ritmo de crescimento da economia brasileira em 2001. Ao contrário da onda crescente de pessimismo, Loyola disse que é cedo para falar em recessão e ainda acredita que está havendo apenas uma queda do ritmo de crescimento da economia norte-americana. Segundo ele, salvo algum sinal mais contundente somente no fim do primeiro trimestre de 2001 ficará mais claro o rumo da economia dos Estados Unidos.Até lá, a política monetária brasileira não tem perspectiva de mudança, ficando engessada à espera de uma definição clara do que acontecerá na economia dos Estados Unidos. Se o cenário norte-americano mais positivo se concretizar, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 3,9%. Antes da eclosão da crise na Argentina, que respingou nas perspectivas do País, a previsão era de que o País crescesse 4,5% - acima do previsto para 2000.
Neste cenário mais positivo, que pressupõe a manutenção de uma política fiscal rígida e descarta uma crise política interna, Loyola acredita que o fluxo de investimento direto para o Brasil será mantido em 2001, totalizando US$ 25 bilhões, cobrindo o déficit em transações correntes.
O desempenho da balança comercial também não deve mudar, segundo o ex-presidente do BC, com um déficit entre US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão em 2001. A inflação (IPCA) deve ser menor do que a meta, ficando em 4,4%, mas os juros não serão favorecidos e a previsão é de cheguem a 15% no fim do ano.
Cenário - Se o pior cenário se concretizar, Loyola disse que o crescimento será menor, embora a Tendências Consultoria ainda não tenha feito essas projeções, à medida que o Banco Central não poderá reduzir a taxa de juros e talvez tenha até de eleva-la para driblar a crise. Além disso, a taxa de câmbio será pressionada, o que colocará em risco a meta de inflação, forçando necessariamente a alta dos juros.
Uma recessão nos Estados Unidos é, segundo Loyola, o pior que pode acontecer para o Brasil, já que o agravamento da crise argentina tenderia a provocar um efeito mais passageiro. Uma crise na economia norte-americana traria efeitos mais duros e duradores.
"Quem está no mercado financeiro está mais assustado, mas os indicadores da economia real não correspondem a esse pessimismo", afirmou Loyola, um tanto otimista com o cenário da economia dos Estados Unidos. De acordo com o ex-presidente do BC seria precipitado apostar no "hard landing". Hoje, "o mais provável" ainda é acreditar que a economia está crescendo menos.
Loyola também não acredita num agravamento da crise argentina. A tensão, porém, deve perdurar muito tempo mesmo com a aprovação do pacote de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Os sinais de reversão só virão a médio prazo", disse Loyola. "Mesmo que dê tudo certo, serão necessários cerca de seis meses".