Terça, 05 de dezembro de 2000, 14h50min
O chairman do Federal Reserve (banco central norte-americano), Alan Greenspan, disse na terça-feira que Fed deve estar alerta aos riscos de uma desaceleração brusca da economia dos Estados Unidos, sinalizando que ele pode estar disposto a contemplar cortes na taxa de juros em um prazo não muito longo.

Nos seus mais extensos comentários sobre as perspectivas econômicas nas últimas semanas, Greenspan disse que o Fed estava monitorando de perto a transição da economia para um ritmo de crescimento com menos pressão inflacionária, na esteira da queda dos preços das ações e condições mais apertadas no mercado financeiro. Os seus comentários indicam que o Fed deixou de ver inflação em alta como a principal ameaça à economia dos Estados Unidos.

Falando a um grupo de banqueiros de Nova York, Greenspan disse que o ritmo da economia já diminuiu substancialmente, em relação ao passo acelerado verificado no final do ano passado e no início de 2000, ainda que a confiança do consumidor se mantenha elevada.

"Assim, em uma economia que já perdeu algum momentum, deve-se manter alerta à possibilidade de que maior precaução e um enfraquecimento dos valores dos ativos nos mercados financeiros possam assinalar ou precipitar uma desaceleração excessiva nos gastos domésticos e empresariais", disse o chairman do Fed.

Os comentários de Greenspan ocorrem no contexto de uma radical reavaliação dos riscos da economia dos Estados Unidos sobre os mercados financeiros, o que aumentou substancialmente as expectativas de cortes nas taxas de juros nos próximos meses para assegurar que a atual desaceleração não se transformará em recessão.

Os preços das ações nos Estados Unidos subiram com os comentários de Greenspan, enquanto os preços dos bônus do Tesouro norte-americanos sensíveis à inflação subiram fortemente --os preços dos bônus caminham na direção contrária aos juros pagos por eles--, já que os mercados leram nas palavras de Greenspan um aumento das chances de haver redução nos custos de empréstimos em algum momento nos próximos meses.

"Ele está genericamente sugerindo ... que eles podem sair em breve de uma posição neutra em breve e deixar de ser tão avesso ao relaxamento da política no próximo ano se continuar caindo o ritmo do crescimento da economia", disse Kevin Logan, economista senior no Dresdner Kleinwort Benson North America, em Nova York.

O próximo encontro do Fed para discutir os juros ocorre daqui a duas semanas. Enquanto é esperado que as taxas básicas de curto prazo sejam mantidas na reunião, economistas acreditam amplamente que o Fed modificará sua avaliação das condições econômicas, afastando-a de preocupações sobre superaquecimento em direção a uma visão mais equilibrada dos riscos econômicos --o que poderia incluir um reconhecimento dos riscos de uma excessiva desaceleração.

Um movimento como este poderia abrir a porta para cortes nas taxas em algum momento do próximo ano.

Greenspan disse que condições mais apertadas nos mercados financeiros poderiam afetar significativamente os gastos com negócios e consumos. "Com os preços das ações caindo em resposta aos ganhos reduzidos devido a custos maiores e um ritmo mais moderado de vendas, o 'efeito riqueza' que impulsionou os gastos com consumo está sendo atenuado significativamente", disse ele.

Ao mesmo tempo, ele alertou que o aumento recente dos preços de energia poderia prejudicar a economia, ao aumentar a inflação ou desencorajar o consumo.

"Em períodos de transição de um crescimento insustentável para uma taxa mais modesta, a economia está obviamente mais sujeita a eventos desfavoráveis", disse. "A alta dos preços de energia, se persistente, é inquietante sob esse aspecto."

Mas ele acrescentou: "Mas, em face ao aumento do preço da energia e da erosão do otimismo nos mercados financeiros, a confiança do consumidor, ou sentimento, parece estar se mantendo razoavelmente bem até agora".

Greenspan também assinalou que o mercado de trabalho nos Estados Unidos ainda está aquecido, com empregadores lutando para conseguir novos trabalhadores. Mas ele ressaltou que os índices mais recentes poderão indicar uma suavização do quadro.
Reuters

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