O subsecretário para Assuntos Internacionais do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, desembarcou ontem na capital argentina para apoiar o governo do presidente Fernando de la Rúa nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para os analistas, o apoio do Tesouro americano demonstra o claro interesse dos Estados Unidos em que a crise financeira turca não contagie outros países emergentes. Com a presença do subsecretário na capital argentina, pretende-se dar um sinal aos mercados de que o governo de Bill Clinton está interessado em evitar o colapso do governo do presidente De la Rúa, "uma espécie de benção de Washington, confirmando que o FMI pode conceder indulgência à Argentina", afirmavam, ironicamente, em Buenos Aires.
Estava previsto que a visita de Geithner seria breve e que este ficaria somente até hoje na Argentina. O subsecretário americano tinha reuniões agendadas com o ministro da Economia, José Luis Machinea, e seus principais assessores. Além disso, tinha encontros programados com diversos consultores econômicos, além de autoridades do Banco Central (BC), reduto do principal defensor da idéia de dolarização da economia argentina, o presidente da entidade, Pedro Pou.
Carta de intenções - O FMI começou ontem as reuniões referentes às metas macroeconômicas trimestrais. Amanhã, a chefe da missão do Fundo, Teresa Ter Minassian, deve reunir-se com o ministro Machinea. No encontro seriam definidos detalhes da carta de intenções. No entanto, a finalização do acordo entre o FMI e a Argentina dependerá dos acontecimentos no Parlamento esta semana.
Hoje começa o debate da reforma da Previdência na Câmara de Deputados, que já enfrenta a rejeição declarada da oposição e também de diversos parlamentares do governo. Os deputados também votarão nesta semana o Pacto Fiscal, que congela o gasto das províncias e da União por cinco anos.
A outra batalha do governo ocorrerá no Senado, onde espera-se que, a partir de hoje, seja debatido o Orçamento Nacional. Os peronistas não têm pressa: dizem que a votação poderá ocorrer nesta quinta-feira ou na semana que vem.
O governo não tem como apressar o Senado. Além disso, segundo informação dada pelo Ministério da Economia ao Estado, tampouco poderia aprovar o orçamento por decreto, já que esta é uma atribuição exclusiva do Congresso.
Na história argentina, somente dois governos começaram um novo ano sem o orçamento aprovado: o de Arturo Illía (1963-1966) e o de Isabel Perón (1974-1976). Ambos foram derrubados meses depois.
Para os analistas, a oposição está demonstrando a capacidade que tem de colocar o governo em xeque. Além disso, mostra-se como alternativa ao governo: em menos de 11 meses serão realizadas eleições para renovar metade do Parlamento, e apresentar-se como opositor ao ajuste é uma boa forma de angariar votos.
Os prazos são curtos: a diretoria do FMI reúne-se no dia 21 de dezembro.
Para acalmar os ânimos dos mercados, o ex-vice-presidente Carlos Chacho Álvarez se reunirá esta semana com o presidente. Ambos não se encontravam em tom de reunião de cúpula desde a renúncia de Álvarez há dois meses.
Sem risco - A Fundação Capital anunciou que a conversibilidade econômica, que fixou a paridade entre o peso e o dólar, não correrá risco ao longo de 2001. Em um relatório, a Fundação sustenta que um sistema de câmbio fixo é inconsistente com dívida pública crescente e que por isso é impossível realizar prognósticos. Segundo a entidade, deixar a conversibilidade significaria agravar ainda mais "o atualmente deteriorado estado de expectativas".