O presidente Fernando Henrique Cardoso disse, hoje, ao participar da abertura do Seminário "Rio Cooperativo 2000", que há uma superação do consenso de Washington. O presidente referiu-se ao encontro dos países mais ricos que definiram as regras da economia internacional que pregou a abertura comercial e a diminuição do Estado.Ele lembrou que a década de 80 foi marcada "pela crença de que a desregulamentação dos mercados e a aceleração do progresso tecnológico, por si sós, iam trazer prosperidade para todos", mas ressaltou que os anos 90 desmentiram essa idéia.
Para ele, essa superação do consenso de Washington não significa "uma volta ao estado de bem-estar social". Segundo o presidente, o colapso soviético feriu de morte a economia planificada. Fernando Henrique disse que o Estado nacional é pequeno demais para lidar com os problemas internacionais como clima, finanças e internet, e é grande demais para questões locais como educação e saúde. Ele ressaltou para o fato de que nos anos 80 o caminho adotado era "cortar gorduras e até musculatura" do Estado além de abrir mercados. "Não foi esta a experiência dos anos 90. As instituições contam; até o FMI e o Banco Mundial reconhecem", observou.
Para uma platéia de três mil cooperativados do Brasil e de 70 países, o presidente afirmou que, para o próximo milênio, é preciso encontrar uma forma de enfrentar uma economia que tem "nessa éspecie de falta de controle do sistema financeiro internacional um motor perverso". Depois de lembrar que as primeiras cooperativas foram formadas, no século passado, por operários desempregados com a Revolução Industrial, o presidente comentou que "o desemprego continua sendo um problema dramático".
Quando chegou ao Riocentro, Fernando Henrique passou por uma pequena manifestação de trabalhadores de cooperativas, que exibiam três faixas com inscrições como "basta de perseguições às cooperativas" e "deixe-nos trabalhar em paz". Os coperativados reclamavam das dificuldades impostas, segundo eles pelo Ministério Público do Trabalho, aos empregados que adotam regime de cooperativa e também do favorecimento dos que são contratados por empresas e têm carteira assinada.
"Vejo manifestações a favor do que sou favorável, as cooperativas de trabalho", disse o presidente em seu pronunciamento. Fernando Henrique encarregou o ministro do Trabalho Fracisco Dornelles, também presente à solenidade, de ouvir as reivindicações dos trabalhadores em cooperativas.
No seu discuros, o presidente citou pontos positivos e negativos da globalização e lembrou que o mundo do futuro "não depende apenas das empresas locomotivas mas, como um tecido empresarial, com empresas de todos os tamanhos". "A globalização não é uma panacéia, mas também não é uma praga", frisou o presidente.
Fernando Henrique ressaltou que a economia do próximo século será fortemente sustentada no chamado terceiro setor, "que não é nem estatal, nem privado" e acrescentou que "no mundo atual não prevalece só a racionalidade econômica, e é preciso também de solidariedade social". Ele disse que crê "na impossibilidade de a racionalidade econômica ser o único elo para a construção da sociedade".
Fernando Henrique lembrou o fracasso da reunião sobre o clima que aconteceu em Haia , no mês passado, quando os países não conseguiram chegar a nenhum tipo de acordo em relação ao meio ambiente. Segundo ele, "a decepcionante reunião de clima" foi motivada, principalmente, "pela intransigência dos países ricos".
O presidente comentou em seu pronunciamento que existem no Brasil seis milhões de associados em cooperativas, que movimentam cerca de 5% do PIB. Os representantes das cooperativas se reúnem no Riocentro, zona oeste, até o dia 8. No Brasil, um dos setores em que o cooperativismo é mais forte é a agro-pecuária. As cooperativas são responsáveis por 30% da produção nacional de agricultura e pecuária, faturam R$ 20 bilhões por ano, o que significa 22% do PIB do setor.