O acordo comercial que o Chile começou a negociar com os Estados Unidos (EUA), e levou o Mercosul a suspender as discussões para a adesão desse país ao bloco, será um teste para a América Latina constatar como poderá ser o comércio dos Estados Unidos com os demais países da região quando for formada a Área de Livre Comércio das Amércias (Alca), a partir de 2005, disse o chefe da área Econômica do Itamaraty, embaixador José Alfredo Graça Lima. Segundo ele, os demais países devem observar qual o acesso que o Chile terá ao mercado norte-americano.Ele admitiu, porém, que o acordo Chile- EUA pode levar os países da Comunidade Andina (Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia) a tentarem negociar bilateralmente com o país do Norte. "Pode haver uma possível ansiedade dos países andinos de negociar com os EUA", disse. O Mercosul negocia a formação de uma área de livre comércio com a Comunidade Andina, a partir de 2002.
Mas, se isso, ocorrer, segundo ele, será um risco para esses países, assim como está sendo para o Chile, porque os EUA ainda não têm o fast-track (via rápida), a autorização que no Legislativo americano fornece para o presidente negociar acordos comerciais. Isso significa que o acordo Chile-EUA pode ser emendado pelo Congresso Americano.
O presidente da Comissão Parlamentar do Mercosul, depurado Júlio Redecker (PPB-RS), compartilha da opinião do embaixador. Ele também acredita que o Chile será uma espécia de cobaia para que o Mercosul veja se os EUA vão retirar as dificuldades que impõem ao Chile para a exportação de cobre, frutas e pescados, principais produtos da pauta de exportação chilena. "Resta saber se os Estados Unidos terão uma relação de parceria ou de hegemonia com o Chile", disse o deputado.
Na opinião de Graça Lima, a perda do Mercosul, com o início da associação comercial desse país com os EUA, é mais política do que econômica. De acordo com as normas do Mercosul, o Chile não poderá integrar a união aduaneira se fechar um acordo com os Estados Unidos.
"O Chile tem a reputação de um país liberal e sua economia tem sido comparada a economias de países desenvolvidos", disse. Com uma população de 15 milhões de habitantes, o Chile possui um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 60 bilhões, 10% do PIB brasileiro. No ano passado, o saldo comercial do Brasil com o Chile foi um superávit de US$ 180 milhões. Para lá, o Brasil exporta principalmente carros, autopeças, celulares e calçados.
Segundo Graça Lima, ainda não se sabe os detalhes do acordo entre os EUA e o Chile. "Não sabemos se inclui cláusulas ambientais e trabalhistas ou normas antidumping, por isso não é possível fazer uma avaliação completa". De acordo com o diplomata, o Chile é um dos países que mais defendem uma revisão nas normas antidumping dos Estados Unidos.