O PT protestou solitariamente hoje (4) - entre executivos e representantes do governo, de bancos e de companhias privatizadas - contra o programa de privatização no seminário "Dez Anos do Programa Nacional de Desestatização", realizado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A iniciativa foi do deputado Milton Temer (PT-RJ), que logo após o discurso do presidente do banco, Francisco Gros, pediu a palavra e reclamou do fato de, entre os palestrantes, não haver nenhum crítico do processo. O BNDES esclareceu que todos os deputados e senadores foram convidados, mas não como expositores."Deveria haver alguém que representasse a parte da população, que, pelo menos segundo as pesquisas, majoritariamente, hoje, contesta os resultados das privatizações", discursou o deputado, que estava entre os assistentes. Do encontro, participavam, entre outros, o ministro da Casa Civil, Pedro Parente, e o ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, que ouviram calados a intervenção. Depois, Tápias lamentou que Temer não ficasse para o restante do seminário. Parente foi mais duro. "O deputado só não ficou porque sabia que o que ia ser discutido aqui ia desmascarar o seu teatrinho", atacou, ao sair para uma reunião.
Antes de se retirar, Temer ironizou o episódio da semana passada, quando Parente admitiu a possibilidade de os petistas elegerem o sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Não quero ir ao ponto de atos falhos nem quero aceitar a priori aquilo que tinha sido anunciado por um ministro do governo, que o PT vá suceder a atual administração. Mas quero respeito democrático. Portanto, que fosse convidado para esta mesa alguém que contestasse o processo." Ele sugeriu que, em vez de "seminário", o evento se chamasse "anúncio da celebração" das privatizações.
"Objetivamente, isso é um atentado à democracia", disse, em entrevista. "Em todos os eventos que se realizam no BNDES, há sempre o cuidado de convidar membros da oposição. É um escândalo". O parlamentar ameaçou pedir informações sobre "quem estava bancando" o encontro, para saber do uso de dinheiro público. O BNDES esclareceu que as despesas de viagem ficaram por conta dos próprios palestrantes.
Depois de criticar Temer, Parente elogiou o governador petista de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, e o ex-governador do Distrito Federal Cristóvam Buarque, porque demonstram preocupação com a austeridade e a estabilidade fiscais. O ministro procurou amenizar a possibilidade de os petistas sucederem a atual administração. "Isso nos permite acreditar que se um partido de oposição chegar ao poder um dia, coisa que é de baixa probabilidade, ainda assim, como já aconteceu com os governadores de Estado, eles vão zelar pela estabilidade econômica e fiscal", declarou.