O setor siderúrgico, considerado um dos principais termômetros do crescimento da economia, reduziu a marcha para 2001 e já não conta com um crescimento do consumo de aço de 10% para o ano que vem, como há um mês, disse o presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) nesta segunda-feira. "O cenário mundial mudou bastante, há muita turbulência, tivemos que rever o aumento de demanda para algo em torno dos 4 a 6%", disse a jornalistas Antonio Polanczyk, também da siderúrgica Belgo Mineira, em seminário sobre o setor.
A queda de expectativa levará as siderúrgicas a irem com menos pressa em direção do aumento da capacidade, que se mostrava o caminho natural da maioria das empresas.
"Achávamos que em 2003/2004 teríamos falta de capacidade (de produção de aço) no Brasil, pois apostávamos em um PIB (Produto Interno Bruto) de mais de 4% ao ano, mas agora já não sabemos como vai ficar", disse Polanczyk.
Ele destaca o receio com a bolsa de valores norte-americana, "que se tiver queda expressiva vai tirar a liquidez mundial", mas lembra que também o preço do petróleo e a desvalorização do euro são fatores agravantes da crise externa.
"Se houver um aperto de liquidez isso vai afetar muito o Brasil, que está se financiando com recursos de fora", disse.
O pessimismo em relação à economia mundial poderá impedir que o setor celebre ao final do ano que vem os bons números registrados em 2000.
Até outubro, o mercado interno registrou crescimento de vendas da ordem de 11,3%, somando 12,5 milhões de toneladas de aço. As exportações, por outro lado, caíram 6,5%, registrando 7,5 milhões de toneladas embarcadas.
A performance do Brasil, entretanto, ainda é muito baixa se comparada ao resto do mundo, segundo Polanczyk.
"O Brasil produz cerca de 30 milhões de toneladas, praticamente o mesmo que um única empresa asiática", informa. Como por exemplo a Posco, que produziu 26,5 milhões de toneladas em 1999, seguida pela Nippon Steel, com 24,3 milhões de toneladas.
Para estimular o setor, Polanczyk vê como únicas saídas a reforma tributária, "o que daria fôlego aos investimentos", e a redução das taxas de juros, pelo mesmo motivo.
"Estamos conversando com o governo e nos comprometemos a aumentar a exportação do setor se essas duas condições forem atendidas", disse.
Tradicionalmente, o setor siderúrgico é o líder em saldos positivos para a balança comercial brasileira, já que exporta cerca de 3 bilhões de dólares e importa um pouco mais de US$ 400 milhões. "Somos o quarto setor exportador e o primeiro em saldo comercial", disse.
Assim como Polanczyk, a presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Maria Silvia Bastos Marques, também presente no seminário, se disse pessimista em relação à economia de maneira geral.
"Estamos mais ou menos como no início do ano passado, sem saber o que vai acontecer... em 2000 tivemos uma boa surpresa, mas não sei como será 2001", disse a executiva.
Ela não fala em rever investimentos, mas se diz cética em relação aos dois pontos considerados fundamentais pelo setor para a expansão da siderurgia no Brasil.
"Confiávamos que este ano a reforma tributária sairia e não saiu, não sei se podemos contar com isso no ano que vem", disse Marques.