Os quatro bancos nacionais - Bradesco, Itaú, Unibanco e Safra - além do espanhol Santander, têm prazo até as 18 horas de amanhã para fazer a entrega das garantias mínimas exigidas para disputar o leilão de venda do Banespa. As cinco instituições passaram pela etapa de pré-identificação ao entregarem na segunda-feira a documentação necessária para concorrer ao banco paulista.A lista que a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia divulga amanhã confirma a desistência do banco britânico HSBC, fato já esperado pelo mercado. Dos nove classificados na fase de pré-qualificação, três anunciaram oficialmente sua desistência no início desta semana: os americanos Citibank e BankBoston e o espanhol BBVA.
A entrega das garantias, porém vai revelar quem de fato está decidido a participar do leilão, marcado para o dia 20, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Até o início da noite, o Santander ainda mantinha suspense sobre sua participação na disputa. A decisão ainda não havia sido tomada.
O maior conglomerado financeiro espanhol tem uma meta definida para o Brasil: conquistar 5% do mercado até 2003 para consolidar sua posição na América Latina. O Banespa poderia ser um dos caminhos para alcançá-la, especialmente pela sua participação expressiva no sistema nacional, mas não o único. Bancos privados de porte médio também foram sondados pelo Santander. A questão é que, depois da aquisição do grupo Meridional, o banco não obteve sucesso nas suas investidas.
Com a privatização do Banespa na reta final, o banco espanhol enfrenta alguns obstáculos, tais como imposições do BC da Espanha para evitar que as instituições aumentem seus investimentos no Brasil por causa da crise argentina. A situação no país vizinho elevou o risco para a região latino-americana e pode ser uma das razões para a desistência do processo de privatização do Banespa do BBVA e pode explicar uma aventual ausência do Santander.
"Fica mais difícil para os bancos espanhóis explicarem para os seus acionistas uma nova aquisição (o Banespa) na região", disse Brent Erensel, diretor de pesquisa para bancos latinos do Deutsche Bank, em Nova York. Essas instituições fizeram aquisições expressivas neste ano no México, cujo sistema bancário está passando por uma fase de reestruturação. O Santander, ou BSCH (Banco Santander Central Hispano SA), por exemplo, comprou o Serfin, e o BBVA, o Bancomer, por US$ 2,4 bilhões, elevando o volume de ativos na América Latina. Do total de 295 bilhões de euros em ativos, 120 bilhões de euros estão na região.
No Brasil, os ativos do BBVA somam R$ 9,362 bilhões. Segundo um analista de um banco estrangeiro em São Paulo, um motivo de peso na desistência do Banespa foi o exame detalhado do data-room, que mostrou, por exemplo, créditos cuja origem não são identificadas. A deterioração na Argentina também contou na decisão dos bancos em relação ao Banespa, segundo a imprensa em Madri e Buenos Aires, que afirma que os bancos espanhóis terão que fazer um aporte de mais de US$ 2 bilhões no pacote de socorro que está sendo organizado pelo FMI para a Argentina.
Segundo o BIS (Banco para Compensações Internacionais, espécie de banco central dos bancos centrais), os bancos europeus, sobretudo os espanhóis, aumentaram sua exposição à Argentina US$ 3,1 bilhões só no segundo trimestre deste ano. Do total de US$ 68,51 bilhões devidos pela Argentina no fim de junho, US$ 17,744 bilhões representavam empréstimos feitos por instituições financeiras espanholas. A exposição dos bancos espanhóis é bem superior, por exemplo, aos US$ 11,13 bilhões devidos pela Argentina aos bancos norte-americanos, de acordo com o BIS.
Os bancos americanos também estão compormetidos na região. O Citigroup teria empréstimos de US$ 4,7 bilhões e mais US$ 1,4 bilhão em títulos do governo, enquanto o FleetBoston (BankBoston no Brasil) acumula empréstimos de US$ 5,7 bilhões, além de US$ 900 milhões em títulos do governo argentino.
Para o analista de bancos do Chase Manhattan, Tomás Awad a questão para as instituições americanas envolvem tammbém outros fatores. "O peso da região para eles é bem menor do que para os espanhóis, que tem uma estratégia agressiva de crescimento no varejo latino-americano."
Na competição com os brasileiros eles sairiam perdendo. As regras rígidas a que os bancos americanos estão submetidos impedem que eles se beneficiem das vantagens de créditos fiscais que totalizam cerca de R$ 2,8 bilhões de créditos fiscais.
O Banespa tem um passivo previdenciário superior a R$ 4 bilhões. De acordo com Awad, muito provavelmente a provisão (reserva de caixa) feita não cobre totalmente esse passivo, até porque as empresas privadas sempre são mais conservadoras do que as públicas na contabilização de prejuízos futuros. Boa parte das empresas utiliza uma taxa de desconto de 6% ao ano para cálculo de valor atuarial, seguindo recomendação da Secretaria da Previdência Complementar. Na cobertuta da aposentadoria complementar de seus funcionários admitidos antes de maio de 1975, o Banespa utilizou uma taxa de 12%. E quanto maior a taxa, menor será o passivo total. "Isso significa que provalmente os bancos terão de fazer uma cobertura adicional", disse Awad. Diferentemente dos bancos americanos, por exemplo, existem muitas discussões no Brasil quanto a forma de contabilizar um passivo atuarial. As regras aqui são mais flexíveis.