Rita Lobo explica saída da TV para se dedicar ao Panelinha: "Interesses migraram para as novas tecnologias"
Na panela tem sempre comida bem-feita e uma genuína vontade de fazer com que todo mundo saiba como cozinhar e comer bem
Um ingrediente fresco daqui, uma medida dali e um jeito simples de ensinar o que aprendeu fazem com que, há 25 anos, a gente confie nas receitas que saem da cozinha de Rita Lobo. Cozinhar mudou a vida da chef e por isso mesmo ela sabe que pode mudar a vida de outras pessoas por meio da comida.
Rita está em uma transição de projetos — recentemente encerrou as gravações de seus programas inéditos no GNT, mas os antigos seguem disponíveis pelo streaming e em reprises. Mas fala sobre a importância das escolhas alimentares e de como vai continuar por aí, para aumentar os cadernos de receitas de cada vez mais gente com xícaras de farinha perfeitamente retinhas e colheradas saborosas de muitas coisas.
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A vontade de atingir o maior número de pessoas possível a fez abandonar a TV por assinatura e ampliar esforços em outra direção. “Não cabia mais na minha vida fazer televisão. O Panelinha cresceu muito e os meus interesses migraram para as novas tecnologias. Não faz sentido que elas não possam ajudar quem está disposto a cozinhar a ter uma alimentação mais eficiente: mais saudável e balanceada, mais saborosa e variada, mais econômica e sustentável e, claro, que ajude a alimentar também as relações.”
Os ultraprocessados vêm disfarçados em embalagens em tons de verde dizendo que o produto é integral ou orgânico, quando na verdade a lista de ingredientes mostra o contrário.
Mudança de modelos
Quem é mais jovem talvez não saiba ou não tenha a memória de que as primeiras vezes que a Rita Lobo apareceu na mídia não foi entre panelas e talheres. Nos anos 1990, ela foi modelo famosa, daquelas que fizeram carreira internacional em temporadas na Europa, Japão e nos Estados Unidos. Foi inclusive apresentadora da MTV Brasil, nos primeiros anos da emissora, falando de moda. Mas no meio da passarela tinha uma cozinha. E uma cozinha que ela queria conhecer melhor.
“Fui fazer gastronomia (em 1995) porque eu não sabia cozinhar. Não queria ser chef de cozinha nem trabalhar com comida. Mas, na cozinha, fui abduzida: aprender a cozinhar é uma experiência transformadora, por inúmeros motivos. Talvez o principal seja a sensação de vitória que a autonomia traz. Chegar em casa e ter algo caseiro pronto na geladeira é muito bom! Assim como saber transformar três legumes, um ovo e uma sobra de arroz num jantar gostoso. Mas isso não significa que você tenha que saber preparar todos os pratos ou só comer o que você cozinhou, pelo contrário”, diz ela, que não pensa duas vezes antes de pedir sushi e sashimi quando tem vontade desses preparos da culinária japonesa.
Essa mesma autonomia é o que move Rita em seus inúmeros projetos na Panelinha, empresa que começou com uma proposta de ajudar com ideias para variar o cardápio e hoje, além de ser uma das fontes mais confiáveis de receitas testadas e que dão certo (em sites, livros, vídeos, podcasts e redes sociais), tem papel fundamental em prol de uma alimentação saudável e na defesa da cultura alimentar brasileira.
“Nestes 25 anos do Panelinha, a grande mudança foi o aumento da oferta de ultraprocessados. Isso influencia diretamente nas escolhas, muitas vezes sem que as pessoas se deem conta. Ainda bem que a gente tem a dieta brasileira, bem balanceada, que é baseada no pê-efe – símbolo do país e da comida de verdade”, diz.
Rita e o Panelinha têm um convênio formal com o Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo — USP) para divulgar conceitos nutricionais baseados em evidências científicas. Há mais de 10 anos divulgam a classificação dos alimentos por grau de processamento em livros, cursos, no site e nas redes sociais.
Da porta da cozinha para fora
Rita assume que é bastante focada no trabalho e estuda o mercado digital, as audiências, as novas tecnologias, o mercado editorial, as novas formas de comercializar livros, fotografia, edição de vídeos e tudo que acompanha suas tarefas. Mas tem um ponto fraco: “Eu uso o trabalho para comprar louça pelo mundo todo e ostentar uma coleção digna de museu! Claro que estou exagerando, mas tenho um acervo bem grande”.
Fora o trabalho, ela se define também como uma mãe muito atenta de dois filhos adultos, que são sua maior alegria. “Tenho duas enteadas, que também já são gente grande, e três filhos (gatos divertidíssimos!) que são meus bebês. O meu marido e eu somos parceiros em tudo, inclusive, sócios no Panelinha. A única coisa que não fazemos juntos é atividade física”.
Isso ela faz com um grupo de amigas, todos os dias, às sete da manhã, com direito a um cafezinho depois, claro. Aí ela volta com mais empolgação ainda para tantas ideias, louças, fogões e sabores.
Meus livros ajudam as pessoas a fazerem melhores escolhas. Sem informação confiável, é muito fácil ser seduzido pelos modismos alimentares e pelo marketing.
A VIAGEM GASTRONÔMICA DE RITA LOBO
Ela adora visitar mercados centrais nas cidades que visita e, se fica períodos mais longos, tenta cozinhar com os ingredientes locais. Depois, usa a inspiração para alimentar o Panelinha. Na última ida para Londres, anotou as ideias que teve e dá para presumir que vem coisa boa por aí.
- Costelinha de porco caramelizada no balsâmico;
- Marinada de iogurte com açafrão, limão e tomate para o frango;
- Homus mais firme, servido com saco de confeiteiro para formar um montinho, finalizado com nozes raladas e sumac (uma especiaria de sabor ácido comum no Oriente Médio e na culinária do Mediterrâneo);
- Salada de batata que parece um purê com maionese;
- Frango desfiado e cubinhos de picles.