Representante do "povo preto" faz Paola chorar no MasterChef
Restrições por conta da pandemia de covid-19 não diminuem o prazer de assistir ao programa
Um prato simples de arroz branco, salada de repolho e bife de fígado acebolado fez o motorista de aplicativo Hailton vencer o primeiro episódio da nova temporada do MasterChef Brasil com cozinheiros amadores. "Vim lutar pelo povo preto", disse o rapaz de 28 anos, graduado em Ciências Contábeis, ao comemorar a façanha. Paola Carosella chorou ao entregar o troféu e assistir à comemoração do campeão.
“A prova era da cesta básica, o prêmio vai para o prato que conta a história da cesta básica no Brasil”, comentou a chef-jurada. “Além de colocar uma história de vida no teu prato, você fez uma coisa que para nós é uma magia, que é cozinhar com nada. O teu prato tinha sal, limão, talvez um pouco de óleo, um pouco de azeite, um pouco de cebola, mas tinha maestria, porque quando a gente comia isso, o sabor era grandioso”.
Na era dos protestos antirracistas como o #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam), é simbólico que o primeiro a se destacar na volta do talent show gastronômico da Band tenha sido um negro da Brasilândia, um dos bairros mais carentes da periferia da zona norte de São Paulo e epicentro de contaminados e mortos pelo novo coronavírus na cidade.
A pandemia de covid-19 obrigou a direção do MasterChef Brasil mudar o formato original. Agora elege-se um campeão por edição entre apenas oito competidores. Na estreia, ninguém usou máscara, alguns participantes dispensaram as luvas ao cozinhar e ocorreu aglomeração no momento das compras no mercado.
Essas mudanças na dinâmica não diminuíram o prazer de assistir ao programa. Os ingredientes básicos e imprescindíveis para o sucesso do MasterChef estavam ali: o nervosismo de competidores, perfis diversos bem delineados pela edição (o marrento, a engraçada, o galã, a dondoca, o atrapalhado etc.), a performance teatral dos jurados, a expectativa pelas avaliações dos pratos. A atração voltou igualmente saborosa. Entretenimento eficiente em tempos tão tristes e insípidos.
A Band e a produtora dona do formato, Endemol Shine Brasil, fizeram duas sinalizações importantes à indústria da televisão: importante retomar as produções ao invés de esperar a imprevisível vacinação em massa e é possível adaptar um programa sem que ele perca sua essência.