O Sal é Um Dom - Receita de Mãe Canô
Com autoria de Mabel Velloso, as receitas da matriarca mais tradicional da Bahia viram livro e revelam, além do sabor do Recôncavo Baiano, a história da família Velloso
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A partir do final deste mês, os apaixonados pela culinária baiana poderão sentir, literalmente, o gostinho que há anos faz parte da família mais famosa de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano: o das receitas de Dona Canô Velloso. As tradicionais iguarias, que remetem tanto às origens africanas quanto às indígenas, poderão ser conferidas no livro O Sal é um Domsal é um dom, de autoria de Mabel Velloso, terceira filha da matriarca.
Primeira parceria entre a editora baiana Corrupio e a Nova Fronteira, a obra apresenta o retrato fiel de uma família que, em meio aos sabores repassados por gerações, sempre celebrou a alegria de estar reunida em casa. O lançamento, que terá degustação de alguns dos quitutes cujas receitas estão no livro, está marcado para o dia 30 de setembro, das 18h às 22h, no restaurante Amado, em Salvador.
“Mais do que receitas, é um livro sobre vida”, declara Mabel Velloso, revelando que a obra conta o jeitinho como se faz comida em sua família. “É o nosso dia-a-dia, a nossa casa. As refeições aqui são tratadas como um momento importante, e prova disso é que, até hoje, minha mãe faz questão que todos se sentem ao redor da mesa”, explica. E conhecendo bem tudo isso, o caminho escolhido pela escritora não poderia ter sido outro; para contar um pouco da história dos Velloso, nada mais gostoso do que ter o paladar como fio condutor.
O dia-a-dia
Autora de biografias de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Viniícius de Moraes e Irmã Dulce, Mabel Velloso estampa em O Sal é um Domsal é um dom a know-how de quem sabea sabedoria, com beleza e fidelidade, de se descrever a vida de alguém com beleza e fidelidade. Assim, em meio às receitas, o leitor poderá se deliciar com relatos e fotos daquela que é hoje uma das famílias mais emblemáticas da Bahia. Ao passar pelas páginas, é possível conhecer o jeito de Dona Canô servir os pratos e passar boas maneiras para os filhos, as alegrias e as tristezas que marcavam a casa em Santo Amaro (BA) e, até mesmo, as superstições, como aquela em que não se devem sentar treze pessoas em uma só mesa.
Ao longo do livro, há ainda o espírito festivo dos Velloso, que pode ser facilmente reconhecido tanto na música de Caetano e Bethânia, quanto na vitalidade de Dona Canô. “Quando os almoços acabavam, tinha toda aquela cantoria, o samba de roda. Na verdade, minha mãe é uma mulher muito festeira e passou isso para os filhos”, revela Mabel. E em cada uma dessas comemorações, seja entre parentes ou amigos, o que não poderia faltar, claro, era a culinária do Recôncavo como parte fundamental.
Os pratos
Com um total de 100 receitas, O Sal é um Domsal é um dom traz todos os sabores que tradicionalmente são experimentados na região baiana que contorna a Baía de Todos os Santos. Marcada por um tempero forte, essa culinária traz como destaque ingredientes como azeite -–de -dendê, amendoim, castanha e camarão seco. Na obra é possível encontrar muitos pratos que são preparados com itens típicos de Santo Amaro, como é o caso da Moqueca de Mapé e do Ensopado de Maturi (castanha do caju verde). Além disso, os leitores encontram receitas de doces, biscoitos e sobremesas, que nunca faltam no dia-a-dia dos Velloso.
Em meio a tantas delícias, o critério utilizado para escolher os pratos para o livro foi apenas a memória, já que Dona Canô nunca teve um livro de receitas. “Assim como era a educação lá em casa, em que havia mais exemplos do que conselhos e ordens, nós aprendíamos a cozinhar apenas olhando e observando”, afirma Mabel. Com isso, as primeiras anotações de Mabela filha de Dona Canô só foram surgir quando ela saiu da casa da mãe, em 1962. Na época, a escritora pediu que Dona Canô ditasse o preparo dos pratos, enquanto ela copiava. “Meus irmãos também fizeram isso, inclusive a Bethânia. Só que ninguém tinha a intenção de mostrar, era algo mais pessoal mesmo.”.
Com fotos de Maria Sampaio, a publicação conta com a apresentação de Maria Bethânia e um texto especial do professor Vivaldo da Costa Lima, antropólogo especializado na cozinha afro-brasileira. Já o nome do livro traz uma história curiosa. Quando Roberto Velloso, um dos filhos da matriarca, foi morar em São Paulo, ele passou a ligar constantemente para a mãe, pedindo orientações sobre as receitas. Em uma dessas vezes, depois de anotar todos os ingredientes e as suas quantidades, ele perguntou para Dona Canô: “E o sal?”. E ela, com a experiência de quem já mexeu muita panela, respondeu: “Ah, meu filho, o sal é um dom!”.
Com o perdão do trocadilho, a verdade é que o dom não está em nenhum ingrediente, mas nas mãos de quem lida com eles. Para Mabel, o segredo de Dona Canô é simples: fazer as coisas com amor. E com isso, a obra nasce com um objetivo que ultrapassa as fronteiras da culinária e ganha uma dimensão de vida. A expectativa é de que, a cada página, o leitor possa encontrar um saboroso motivo para se reunir com a família, em um momento singular de união. É a tentativa de fazer com que todos encontrem aquele mesmo aconchego que, há tantos anos, serve de marco para a família mais tradicional de Santo Amaro — a família Velloso.
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