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A Última Casa de Ópio
de Nick Toshes
“Se trazes à tona o que está dentro de ti, o que trazes à tona te salva. Se não trazes à tona o que está dentro de ti, o que não trazes à tona te destrói”. É assim que Nick Tosches, autor de A Última Casa de Ópio, descreve a sensação de fumar ópio à moda antiga: em pasta, num cachimbo aceso por uma lamparina, numa casa de ópio. A obra, lançada pela editora Conrad neste mês (maio), é descrita simplesmente como “Fascinante” pelo The New York Times Book Review. Já Nick Toshes, é classificado como “Maravilhoso”, pela Rolling Stone. Concorra exemplares!
O que era para ser uma matéria sobre casas de ópio em Nova Iorque, para a revista Vanity Fair, tornou-se uma obsessão para Toshes. Em busca de uma autêntica casa de ópio, o jornalista viaja para o Extremo Oriente. É em Hong Kong, uma província chinesa, ex-colônia britânica, que o leitor entra em contato com a cultura oriental, contada por um escritor compulsivo e exímio observador. Lugares improváveis, acontecimentos impossíveis, personagens extraídos de um filme de Bernardo Bertollucci. Cena após cena, Toshes revela o quanto nossa “disparada enlouquecida ao futuro” destrói costumes muito nobres. Tradições que caminham para uma extinção silenciosa.
Pode-se perguntar: “mas o que há de tão nobre assim em fumar ópio?” A prosa leve e envolvente de Tosches, recheada de referências históricas, responde à pergunta com elegância. A Última Casa de Ópio resgata o lado sagrado e mitológico no consumo das “lágrimas de Afrodite”, tratando o controverso hábito com um requinte que seduz até o leitor mais conservador.
“ Eu nasci para fumar ópio. Não me entendam mal: sou contra as drogas, há muito tempo renunciei ao seu uso e abracei o caminho espiritual apontado por A Profecia Celestina e aquele cara com a testa grande e brilhosa. Drogas matam. Apesar disso, eu nasci para fumar ópio. Mais exatamente, nasci para fumar ópio numa casa de ópio”, confessa o autor.
Desde o início da narrativa, Nick Toshes se coloca como o mais transparente dos narradores. Em pleno século XXI, num restaurante novaiorquino sofisticado, fregueses conversam animadamente sobre as qualidades de um prato muito especial. Mas Tosches, por mais que se esforce, não consegue ver nada especial em pagar 25 dólares por metade de uma... cebola. Para ele, hábitos desse tipo são sintomas de um grande mal do mundo contemporâneo: o falso conhecimento.
Com o olhar treinado do bom jornalista, ao melhor estilo que consagrou Truman Capote, Hunter Thompson, Norman Mailer, Lester Bangs e Gay Talese, ele nos oferece uma obra de honestidade tremenda, mostrando que ainda há espaço de sobra para a surpresa. Basta apenas saber aonde procurá-la.
Contudo, a busca de Toshes não pode ser vista apenas como uma obsessão. Longe de ser um livro de auto-ajuda, A Última Casa de Ópio é uma metáfora da busca por tudo aquilo que vale a pena. Pelas coisas boas da vida. E, porque não, por si mesmo. Toshes encontrou seu ópio. E você?
Autor
Nick Tosches nasceu em Newark, New Jersey, em 1949. Autor de romances, poeta e jornalista, começou a carreira escrevendo sobre música em revistas especializadas, como Creem, Fusion e Rolling Stone. Apesar de também publicar ensaios variados pela Vanity Fair (revista para a qual também colabora como editor) e pelo The New York Times, o que lhe rendeu maior notoriedade em sua carreira foram as biografias.
Hellfire, de 1982, é a aclamada biografia de um dos pais do rock, o pianista Jerry Lee Lewis. A Rolling Stone referiu-se ao livro como “simplesmente a melhor biografia já escrita sobre um astro do rock”. Com o lançamento, em 1993, da biografia do cantor e ator Dean Martin (Dino: living high in the dirty business of dreams), o nome de Tosches voltou a ficar em evidência. Por conta do livro, Tosches dividiu com Gay Talese o Italian-American Literary Achievement Award for Distinction in Literature daquele ano.
Tosches escreveu também Country – The Unsung Heroes of Rock’n’Roll, tido como um dos livros mais importantes sobre a música country dos EUA em todos os tempos. Além de música e cultura pop, os temas policiais – geralmente com a máfia italiana envolvida – e políticos também são seus temas preferenciais. São de sua autoria as biografias do boxeador Sonny Liston (The Devil And Sonny Liston) e do chefão do submundo do crime Arnold Rothenstein (King of the Jews).

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