O fotógrafo Kevin Carter era o mais novo dos quatro foto-jornalistas sul-africanos (Greg Marinovich, João Silva e Ken Oosterbroek) que se embrenhavam, diariamente, nas cidades-dormitórios de Johanesburgo para fotografar o ápice da violência entre facções negras (1990-1994). Suicidou-se aos 33 anos, com uma mangueira enfiada na boca e acoplada ao cano de descarga do carro, por não conseguir se livrar das imagens dos conflitos. “Sofro de depressão com o que vejo, tenho pesadelos. Me sinto alienado de gente normal, inclusive da minha famÃlia. Me sinto incapaz de entabular uma conversa social frÃvola. É como se uma cortina descesse. Me retraio para um lugar escuroâ€, admitia.
Fora isso (e tudo isso!), Carter (que ostentava uma tatuagem do mapa da Ãfrica no ombro direito), colecionava problemas pessoais: vinha de um ambiente familiar disfuncional, desertara do serviço militar e havia tentado o suicÃdio. Tinha picos e abismos emocionais, queixando-se constantemente de um pesadelo no qual se via estirado no chão, à beira da morte, com uma câmera de televisão se aproximando do seu rosto. Abusava de Mandrax, maconha e tranqüilizantes.
A foto que lhe rendeu o prêmio Pulitzer foi feita por acaso, quando “pegou carona†com João, encarregado de cobrir o genocÃdio de tribos cristãs pelo governo islâmico, rumo ao Sudão. O amigo, que bolou toda a pauta e percorreu a cidade em busca de algo “quenteâ€, já havia fotografado a menina negra à beira da morte, mas sem o abutre. Quando Carter voltou com a notÃcia “bombásticaâ€, a primeira reação de João foi se dirigir ao local, mas o precavido fotógrafo avisou que havia enxotado o abutre.
A famosa foto rendeu ao New York Times o primeiro prêmio Pulitzer de fotografia (e olha que o Carter era freelance, ou seja, não fazia parte da equipe da casa). Mas uma questão o perseguiria até a morte: “o que fez o fotógrafo, depois de bater a foto, para ajudar a criança?â€. A pressão acabou fazendo-o declarar, numa de suas últimas entrevistas, para a revista American Photo, que odiava a tal foto.
Greg parece ter a explicação em seu livro (The Bang Bang Club, co-autoria de João Silva): “Um pedaço da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde a cada vez que acionamos o botão da câmeraâ€.
As informações sobre a história de Kevin Carter foram retiradas do artigo de Dorrit Harazim – “Abutres ou heróis?".
Veja também:
Coletiva do Savatage é regada a caipirinha e risada
Beatriz Levischi, especial para o Terra
volta