Ricardo Ivanov / Redação Terra
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"Não comecei a ganhar dinheiro ainda", vai logo explicando Leandro Dionísio dos Santos Moraes. Pelo R.G. o nome é esse. De acordo com o nome que aparece nas paradas musicais de todo o Brasil, é outro: Tigrão. Fala usando termos que mostram que está bem assessorado: "Não estamos pensando em ganhar um dinheirão. Estamos pensando em investir em nossa carreira", diz o cantor do grupo mais falado do momento, o Bonde do Tigrão. Aliás, além do vocalista, existem os dançarinos, que eventualmente são esquecidos pela imprensa, mas não aqui: Tiaguinho, com 16 anos, Vaguinho, com 17, e Gustavo, com 18. Ah! O Tigrão tem 20.
Aliás, idade e faixa etária foram alguns dos temas da conversa exclusiva que a reportagem do Terra teve com Leandro, por telefone, direto do Rio de Janeiro. "Não acho que nossas músicas sejam obscenas. Nosso maior público é o infantil. Pegamos 'devagar' nas letras, que é para todo mundo curtir. Só entende quem quer", explica o cantor, relevando o fato de o público infantil ser um pouco mais esperto do que se pensa e que certamente irá imitar o gestual e gírias, mesmo não sabendo bulhufas sobre o que seria o tal "cerol na mão".
Mas Leandro é sincero e aparenta ainda estar se adaptando à fama repentina e recente que músicas como Tchutchuca e Entra e Sai lhe deram. Líderes pelo voto popular da corrente funk que assola o Brasil - no carnaval baiano as músicas mais repetidas foram justamente as que fizeram a alegria dos bailes cariocas -, o Bonde do Tigrão (que na realidade era "Putão" antes de entrar na mídia) está fazendo moda com suas expressões de duplo sentido, algo inventado no final da década de 70 pelo cantor Genival Lacerda e sua "barriga dançante".
Pegar gatinhas
"Cada classe tem seu jeito de falar. O povão da favela tem uma gíria que somente quem mora lá entende", analisa Tigrão. Exemplos? A classe alta usa "meu brother". A classe baixa, "meu mano". A alta, "se liga aí!". A outra, "tá dando mole". E por aí vai, segundo o cantor, que mora com a mãe, irmã e um sobrinho. Aliás, a próxima moda, revelada com exclusividade para o Terra e que só estará no próximo disco do Bonde do Tigrão em 2002, é um tal de "Robbin Wood, o Arqueiro do Amor". Quando perguntado o que a expressão queria dizer, respondeu: "Se eu disser perde a graça. Aliás, preciso tomar cuidado senão roubam a idéia de mim", teme Tigrão. Garantimos a ele que revelaríamos a idéia, mas que ficaria registrada como bolada primeiro pelo artista, já que a data lhe daria o direito à criação.
Leandro não titubeia e assume que começou a tocar em bailes só para "pegar as gatinhas", como o mesmo diz. "Não esperava chegar a isso tudo. Era uma brincadeira. Mas desde a primeira apresentação a comunidade nos incentivou. Quando percebemos, as músicas estavam tocando em São Paulo, Bahia e Minas Gerais", comenta. As influências para se chegar na fórmula do Tigrão foram, surpreendentemente, Roberto Carlos, Michael Jackson, Claudinho e Buchecha e Backstreet Boys. E até mesmo Caetano e Gilberto Gil apoiaram o funk quando a polêmica apareceu na Bahia, neste carnaval: "Ficamos felizes com isso. Só fera da MPB elogiando quatro garotos humildes", argumenta o cantor.
O Bonde do Tigrão faz atualmente 10 shows por semana, a maior parte fora do Rio de Janeiro. "Mas já está batendo saudade de casa. Não podemos perder a raíz", analisa Leandro, que cita os programas de TV que participou, a divulgação em rádio e reconhecimento do público como as primeiras coisas boas que apareceram com a fama. "Vou comprar uma casa para mim e minha família. Um canto de descanso para reunir o grupo no final de semana. Mas vai ser em um lugar humilde, perto de onde moramos", conclui.
Diante das benesses do estrelato e objetivo orginal da missão do Tigrão, é de se surpreender que Leandro esteja solteiro. "Mas é melhor assim. Não tenho tempo nem cabeça para namorar agora", assegura. O próximo passo do grupo, que já está em andamento, é ensaiar "meia banda", um DJ e palco para os shows, já no formato de big estrela do mercado fonográfico brasileiro. É um grande passo para quem meses atrás fazia shows somente com um microfone em mãos.
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