Diário das filmagens
 

Domingo, 08 de agosto de 2004

Discussão e ambulância marcam o domingo da equipe de Sal de Prata

Enquanto domingo é dia de descanso para a maioria da população, hoje 08 de agosto, a equipe de Sal de Prata deu duro no set de filmagens. Pela manhã foram rodados planos da loja de Veronese, com as atrizes Maria Fernanda Cândido e Janaína Kremer. A locação era uma tradicional e pequena loja de filmes e equipamentos fotográficos no centro de Porto Alegre.

De tarde, cenas da assembléia de cineastas na Associação, onde acontece a discussão que vai provocar um infarto em Veronese e, conseqüentemente, sua morte. A discussão esquenta quando JB discorda de Holmes sobre sua visão do cinema. JB é um cineasta mais conservador, que não admite filmes feitos em outros formatos que não sejam a película. Veronese entra na confusão e acaba sofrendo um ataque cardíaco. O comentário do pessoal da técnica: "cinema é muito louco. Primeiro enterram o cara, depois fazem seu velório, e só depois ele fica doente". Trabalho para o montador, que vai colocar tudo em ordem.

Apesar do sol ter aparecido, o frio não deu trégua, mas o figurino veio bem a calhar: todos os atores estavam com roupas de inverno, que é muito rigoroso no sul do país. Aí o cinema registra a realidade. Até os produtores entraram em cena como figurantes: Bel Merel, da produção de base, desempenhou muito bem seu papel de cineasta na assembléia, enquanto Ana Luiza Azevedo, diretora assistente, remanejava os figurantes de um lado para o outro em cada novo plano. "Vamos filmar o famoso plano da figuração andante", brincou o diretor. (comentário geral: o alto astral do diretor contagia toda a equipe. Ninguém fica de cara feia no set e a diversão é garantida).

Caiu a noite e o pessoal continuava trabalhando. A cena noturna foi filmada em frente ao auditório que serviu de locação para a assembléia. Planos de Veronese depois do ataque cardíaco sendo colocado na ambulância. Dessa vez, o trabalho foi montar a iluminação na rua e "maquiar" a ambulância, tapando a marca da empresa com plástico branco. Adriana, técnica em enfermagem, veio pra dar uma assistência aos atores que interpretavam os paramédicos. Não deu outra: acabou entrando em cena com eles. "O pessoal lá de casa não vai acreditar que eu saí pra trabalhar e voltei toda maquiada. Quando eu contar que participei do filme, vão achar que é mentira", brinca ela. Um dos planos era complicado e a câmera foi montada dentro da ambulância.

E Marcos Breda, depois de deitar e levantar da maca mais ou menos umas cinco vezes, disse: "O Veronese teve um infarto porque contaram pra ele o resultado do jogo entre Ponte Preta e Inter...". Amanhã tem a cena derradeira: a equipe vai filmar o ataque cardíaco de Veronese.

Há 17 anos vivendo fora do Rio Grande do Sul, Marcos Breda iniciou sua carreira em Porto Alegre, junto com Gerbase e outros cineastas da sua geração. Seu primeiro trabalho como ator em cinema, foi uma figuração em Inverno (1982), longa-metragem dirigido por Gerbase. Depois, o diretor lhe deu um papel mais importante em Verdes Anos (1984). O Amante Amador, curta para televisão dirigido por Gerbase em 2002, foi um ensaio para retomada da parceria entre ator e diretor, duas décadas depois de Verdes Anos.

"Aprendemos coisas muito positivas nestes vinte anos que se passaram e ambos construímos carreiras sólidas", afirma Breda. E acrescenta: "O Gerbase se tornou um grande e multitalentoso cineasta, mas o seu maior talento é saber comandar a equipe. Tenho muito orgulho de voltar a trabalhar com alguém que foi tão importante para a minha carreira".