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O SHOW DE TRUMAN - O SHOW DA VIDA

RAPIDINHO:

Quem se emocionou de verdade com o careteiro Jim Carrey tentando desvendar o seu segredo ontológico? Quem riu pela segunda (ou terceira, quarta) vez daquelas piadinhas idiotas sobre merchandising? Quem acreditou, por um instante sequer, no grande estúdio de televisão construído ao lado da muralha da China? "O show da vida" não é um bom drama, não é uma boa comédia, não é um bom filme de ficção-científica. É um bom, um grande, um maravilhoso, candidato ao Oscar, o que, convenhamos, é apenas mais uma prova de que o australiano Peter Weir consegue enganar direitinho aos bons moços americanos. "O show da vida", numa versão reduzida e recheado com algumas entrevistas inteligentes da repórter Glória Maria, seria uma boa matéria para encerrar o Fantástico do próximo domingo.

AGORA COM MAIS CALMA

Detesto detestar um filme. Ainda mais quando tanta gente bacana gostou dele. Mas acho que tenho um problema qualquer com esse Peter Weir. Enquanto as pessoas se emocionavam até às lágrimas com "Sociedade dos poetas mortos", eu dormia solenemente. Enquanto milhares de colégios promoviam milhões debates sobre o ensino baseados naquele monte de lugares-comuns, eu lembrava com saudade de "Ao mestre com carinho" (o original, não a lamentável seqüência lançada há pouco). Meu problema com Peter Weir é que ele concede demais. Em todos os seus filmes. Em quase todas as cenas. Ele é tão bem intencionado, tão politicamente correto, tão didático, que seus filmes ficam grudentos.

Claro que este "Show da vida" é dramaticamente oposto ao humanista "Sociedade dos poetas mortos". É um show frio, artificial, distópico. Mas não tão frio a ponto de lucrar com a própria frieza. Em nenhum momento Weir propõe uma reflexão de alguma profundidade sobre a indústria audiovisual norte-americana. Quando Truman decide enfrentar o mundo real, encerrando a monumental mentira de sua vida (aliás, a única alternativa verossímil), ele é aplaudidíssimo pela massa telespectadora. Não entendi. Se os caras acompanharam com interesse toda aquela vida construída de mentiras (e são, na verdade, a própria razão de ser das mentiras), deveriam odiar o final da brincadeira (e jamais trocariam de canal com tanta facilidade). Imaginem se a Globo decidir não fazer mais a novela das oito. No outro dia, cai o presidente. Não o da Globo. O do Brasil.

É preciso reconhecer, contudo, que o filme tem algumas seqüências muito interessantes, principalmente quando Truman é impedido de sair da cidade pelo exército de figurantes e pelo festival de efeitos especiais. Na verdade, qualquer pessoa que goste de cinema (e não simplesmente de filmes) deve assistir ao "Show da vida". Na verdade, se Weir tivesse acreditado mais no personagem de Carrey, entregando-o a um ator dramático, e não a um cômico, talvez o filme perdesse esse clima de pós-modernidade publicitária que o impede de decolar. Na verdade, Weir é apenas um esforçado contador de histórias, louco para agradar Hollywood, ganhar Oscars e garantir que o mundo siga girando de acordo com as regras. Na verdade, o problema é que Weir quer ser mais do que isso. Quer enviar "mensagens", sempre edificantes. E, como todo mundo sabe, a melhor maneira de enviar uma mensagem não é fazer um filme. Basta enviar um e-mail.

O Show de Truman - O Show da Vida (The Truman Show, EUA, 1998). De Peter Weir. Com Jim Carrey, Laura Linney, Natasha McElhone, Ed Harris e outros.

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

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