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O SUPER-8 É UM MORTO-VIVO
QUE CHEIRA BEM

Em 1988, a Kodak e a Fuji suspenderam o serviço de revelação de filmes super-8 no Brasil, deixando sem pai, nem mãe (nem um ombro amigo pra chorar) a centenas de realizadores que ainda acreditavam em fazer cinema de baixo custo. Apesar da resistência de alguns deles, que chegaram a montar laboratórios caseiros, a bitola definhou rapidamente. No Rio Grande do Sul, Estado de grande tradição no super-8 (vários longas e dezenas de curtas no início da década de 80), passaram-se anos sem haver novidades no setor.


Ilustração criada para o super-8 II, de Cristiano Trein

O Festival de Gramado, contudo, resistiu. Vitrine tradicional do super-8, manteve a mostra competitiva mesmo em anos em que, claramente, a competição era entre dois ou três amigos paulistas, que subiam a serra com filmes muito precários. Mas eles é que estavam certos (o Festival e os três amigos paulistas). Se, em algum momento, o super-8 fosse definitivamente enterrado no Brasil, não estaríamos vendo agora uma nova geração - numerosa, solidária e entusiasmada - preenchendo a tela com suas propostas cinematográficas radicais, às vezes mal finalizadas e apressadas, mas nunca tediosas ou convencionais.

A mostra competitiva de super-8 que aconteceu na tarde de domingo no Festival de Gramado não teve um único documentário sobre as férias na Europa, nem uma única chatice clássica do tipo "filmei meus lindos cachorrinhos". Foram 16 filmes curtos que divertiram a platéia, superando as dificuldades técnicas da bitola com roteiros (em sua maioria) inventivos e provocadores. Mesmo restrito ao Rio Grande do Sul e ao Paraná (aparentemente por razões econômicas), o festival super-8 mostrou que o novo sempre vem e que o cinema brasileiro em breve será invadido por um bando de realizadores dispostos a conquistar seu espaço e mostrar suas propostas. Mas que propostas?

Mesmo correndo o risco de uma simplificação, afirmo que as principais são:
1) NÃO à narrativa tradicional e linear (que alguns deles costumam chamar de "televisiva");
2) NÃO aos temas cotidianos, à interpretação cinematográfica de suas próprias vidas;
3) NÃO às preocupações sociais ou engajamentos político-ideológicos;
4) SIM ao discurso do grotesco, do não-visto, do não-experimentado, do não-familiar;
5) SIM à violência estetizada, não-realista e (quase sempre) bem-humorada;
6) SIM ao experimentalismo e à radicalidade udigrudi (admiram o cinema alternativo de Bressane e Sganzerla; não gostam do cinema novo).

Para os leitores do ZAZ, não tem sentido falar de cada um dos filmes, nem de seus realizadores, porque o super-8 tem dificuldades estruturais insuperáveis para chegar ao mercado, mas fica a advertência: para um morto-vivo que apodrece há dez anos, até que esse cadáver está saudável e cheira bem. Em breve, poderá estar assombrando um cinema perto de vocês.

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

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