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Diretor sempre quis filmar livro de Schnitzler

Xico Reis, de Nova York

Se a jornada erótica do protagonista, durante a qual limita-se ao papel de observador (as tão faladas e aguardadas cenas de sexo entre Cruise e Nicole, antecipadas pelo trailer, não existem: no filme, os dois limitam-se a trocar rápidos beijos e carícias), é fantasia ou realidade, Kubrick não esclarece.

Seu propósito é enfatizar o conflito entre desejo sexual e os limites à sua plena realização estabelecidos pela sociedade dita civilizada, dos quais o mais evidente é a instituição do casamento monogâmico.

É um tema que domina a obra do escritor e dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931), autor do romance Traumnovelle (traduzido para o inglês como Rhapsody: A Dream Novel), escrito em 1926, no qual o filme é baseado.

Amigo de Sigmund Freud, Schnitzler formou-se em medicina mas abandonou a profissão para dedicar-se exclusivamente à literatura. Uma de suas peças, Reigen (A Ciranda), adaptada por David Hare, que a batizou de The Blue Room, fez com que multidões corressem à Broadway no ano passado para contemplar alguns segundos de nudez à meia-luz da atriz principal - Nicole Kidman. Nicole aceitou o papel em The Blue Room a conselho de Kubrick, um antigo fã de Schnitzler.

Pelo menos há 30 anos ele planejava transformar Rhapsody: A Dream Novel do qual distribuía exemplares entre amigos, em filme. A tese segundo a qual opostos estão destinados à mútua atração explica o fascínio que o escritor exercia sobre o cineasta: Kubrick era um recluso que há mais de três décadas praticamente não saía de casa. Schnitzler era um predador sexual que, até os 41 anos, quando se casou, percorria diariamente as ruas de Viena em busca de mulheres, para satisfazer um apetite aparentemente insaciável.

"Sinto-me como um animal quando fico uma semana ou mais sem sexo", escreveu ele em seu diário. Nele, registrava o número de orgasmos que experimentara com cada uma de suas muitas amantes. Consultando-o, descobre-se, por exemplo, que teve 563 orgasmos com uma certa Anna Heger, entre o início de 1885 e o final de 1889.

Kubrick, embora refugiado em Londres há muito tempo, nunca renegou suas raízes norte-americanas. Como bom puritano, filho de um país que vive desde os anos 80 uma contra-revolução sexual - da qual não há nada mais representativo que as apressadas, furtivas e incompletas sessões de sexo oral em que Bill Clinton e Monica Lewinsky se empenharam -, provavelmente considerava Schnitzler tão fascinante e irreal como um habitante de outro planeta. Sexo nunca foi algo espontâneo ou natural, muito menos saudável, nos filmes de Kubrick. Para Schnitzler, era algo tão essencial quanto comida. É por isso que, na tela, as aventuras do casal vivido por Nicole Kidman e Tom Cruise são tão inconvincentes.

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(Xico Reis/Agência RBS)

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